Você deve estar se perguntando: “o que fazer com Bolsonaro?” Vale a pergunta porque o ex-Presidente se encontra na condição de inelegível até 2030, e está na alça de mira da PF, do STF e do Ministério da Justiça. Entretanto, conseguiu agregar milhares de pessoas na gigantesca manifestação convocada por ele e organizada pelo Pastor Silas Malafaia (Assembleia de Deus Vitória em Cristo), no último 25 fev 24, na Av. Paulista, coração de São Paulo. Logo, as perguntas são: “e daí?; quais os efeitos disso?; o que muda no cenário político do Brasil?”
Ao contrário do que muita gente pensa, a prisão de Bolsonaro (PL) – por conta das investigações sobre o possível golpe de Estado – não é tão iminente assim, isto porque somente uma prisão preventiva muito bem fundamentada poderia colocá-lo na cadeia tão cedo. Do contrário, somente uma sentença condenatória transitada em julgado (quando estão esgotadas todas as possibilidades de recursos para o acusado) é que o levaria ao cárcere. Mesmo o Brasil se tornando “o país do impossível”, não podemos desprezar o fato de crer que tudo pode acontecer, inclusive nada. Se eu pudesse dar algum conselho a quem está com a sanha pela prisão do Capitão, diria: “baixe um pouquinho esse faixo porque o momento não é dos melhores para isso”!
Além disso, os olhos da política internacional se voltaram para o Brasil visto que essa manifestação chamou a atenção e repercutiu no mundo todo. O jogo político não mudou, mas deverá ser jogado com muito mais cuidado! Um dos motivos foi a infantilidade do imbróglio criado pela PF quanto a entrada do jornalista português Sérgio Tavares que passou evidente constrangimento, que fez o lusitano soltar o verbo: “Eu vou garantir que a Europa e o mundo vão saber a verdade sobre o Brasil. O mundo vai saber que o Brasil precisa de liberdade. Não pode haver censura, perseguição … Eu prometo, essa imagem vai correr a Europa toda” (Poder 360; 25 fev 24).
Outra coisa que ainda soa e ressoa internacionalmente são as falas infelizes de Lula (PT) sobre a guerra na Faixa de Gaza e a insistência em comparar as ações de Israel ao Holocausto de Hitler na 2ª Guerra Mundial. Foi combustível para militantes e simpatizantes que foram e que não estiveram na Av. Paulista. Além disso, a comunidade cristã no Brasil tende a apoiar Israel por conta de questões religiosas e Bíblicas. Máxime, os evangélicos que boa parte deles é vidrada em estudar as origens do cristianismo e, evidente, que passa pelo estudo de Israel. Lula (PT) mexeu de forma equivocada num vespeiro eleitoral que poderá se arrepender amargamente no futuro
Outra coisa que está chamando a atenção é um Bolsonaro (PL) mais palatável, menos truculento e com discursos mais ameno, embora continue sendo o mesmo “cara duro” de sempre. Isso tem uma explicação: a de que ele, finalmente, entendeu como se joga o jogo político com palavras e gestos. E, claro, ele sabe que corre o risco de ser preso a qualquer momento, por qualquer motivo. Se Bolsonaro “cochilar, seu cachimbo cai”! Por isso ele incentivou uma manifestação pacífica e sem ofensas ou agressões a instituições ou a pessoas. O único que fez um discurso mais enérgico foi Malafaia que, como sempre, não refrescou ninguém, embora, também tenha tido o cuidado de direcionar seu discurso de modo bem inteligente.
Nos palanques (2 caminhões) onde estava Bolsonaro, muitas outras autoridades se encontravam, como os Governadores Tarcísio (Rep/SP), Zema (NOVO/MG); Ronaldo Caiado (União Brasil/GO); Jorginho Mello (PL/SC), vários senadores, muitos deputados federais e estaduais, vereadores, artistas, etc. Ou seja, estava repleto de figuras importantes que representam a “direita” da política nacional. Isso significa que o Brasil continua dividido e polarizado. Aliás, creio que mais do que antes! E o nome que encabeça essa parcela é Bolsonaro (PL) que não está morto, assim como Lula (PT) não estava mesmo na prisão em Curitiba. Se “futebol é uma caixinha de surpresa” podemos dizer que política é um verdadeiro baú! Cada vez que alguém coloca a mão dentro dele não há a menor ideia do que sairá de lá.
Por fim, o ponto baixo é a insistência em reduzir o número de participantes na manifestação que pelas imagens dispensa qualquer discussão. A av. Paulista estava com, aproximadamente, 90% de sua extensão tomada, bem como as vias de acesso de igual modo. Ou seja, “tinha gente pra chuchu” e mais um pouco! De modo que cada vez mais se torna mais fácil admitir o óbvio: 1) Bolsonaro (PL) está mais vivo do que nunca por levar multidões a seu encontro; 2) Lula (PT) e a esquerda está assustada com o cenário que está se formando para as eleições municipais. Aguardemos os próximos capítulos que vão até outubro.
É isso!
Marcos Túlio, Advogado e Professor de Direito