SANTA INOCÊNCIA.

Diante de algoritmos, tecnologias, metaverso, inteligência artificial e o escambau, tento acompanhar a evolução do mundo em todos os sentidos. E, mais do acompanhar, tento evoluir junto.

Hoje estou próximo de coisas que antes eram inimagináveis. E a cada dia aprendo um pouco no computador e no celular, que me conectam literalmente com o mundo.

Mas, mesmo com tudo isso, confesso, me pego sentindo falta de algo que está acabando, se é que já não acabou no mundo: inocência, pureza e falta de malícia.

Como era bom ser inocente, ser bobinho, fazer e ouvir coisas sem malícia e sem milícia. Isso não tinha preço!

Pela falta de aplicativos à época, bolos só eram feitos em casa. De fubá, de côco, até de chuva. Feitos em casa sim, e com muita chuva de farinha na hora de amassar.

Bolinha era de gude, uma diversão sempre à mão. Epa!

Chás de erva doce, de erva cidreira ou camomila eram para dor de barriga e gases. Suco de maracujá para a falta de sono.

Stress? Nem se sonhava com isso!

Remédio tarja preta? Vade retro!

Streaming era cineminha no cinema mesmo. E, confesso, aqui a malícia ficava um pouquinho de lado quando o lanterninha deixava todo mundo no escurinho do cinema.

Vige, mãe! Zé do Caixão teria dado voltas na tumba antes mesmo de morrer.

Contra doenças exóticas e desconhecidas? Nada. Isso não havia, nem aqui e nem na… China!

A gente só tinha caxumba, lumbago, tersol, frieira. Sarampo, escarlatina eram um pouco mais preocupantes.

Corona era só o chuveiro, nem a cerveja existia.

Vírus era quando um caipira dizia novidades para os amigos: “Pessoar, cêis víru isso?”

Ôlho gordo como os de hoje? Qual o quê! Antes isso era só quebranto, e passava logo. Era só ir à benzedeira! Tudo se resolvia. Às vezes só na reza, mas se resolvia!

Trabalhar em casa era coisa de costureira, doceira, marceneiro, mecânico. Home office era apenas um homem oficial, ou homem da polícia.

Teacher era whisky e não um exigente, professor. Fazer bagunça na aula era arriscado. Melhor não!

Namôro era meio açucarado, meio sem beijo. Às vezes com uns furtivos amassinhos, mas não saía disso. E se saísse, se casava!

Casamento? Sempre cedo. No máximo com 25 anos.

Ter filhos? Ai de quem não fizesse isso logo. Quem contrariava, ficava falado, nem precisava de feicebuqui pra ficar na boca do povo.

Whats’App era a comadre de beira de cerca. Ou a moça na janela. Não passava disso! As notícias boas ou ruins se espalhavam rapidamente, só no boca-a-boca.

Previsão do tempo? Que moça do tempo que nada! Bastava olhar para o céu para descobrir se ia chover ou não.

Carnaval era na rua e nos clubinhos, com alguns beijos roubados. Atenção, alto lá, eu disse alguns eram roubados! E tira a mão daí!

Camisinha era apenas uma peça de vestuário de marca meia-boca, tipo camisas Volta ao Mundo. De tanto usar essa camisa adquiri a paixão por viajar.

Escolher a profissão não era com coach, era na base do “parpite” ou nos desejos dos pais.

Pais, aliás, queriam porque queriam que os filhos fossem gerentes de banco ou das Casas Pernambucanas. Era assim que funcionava os futuros dos filhos lá no Interior. Rebeldes quebravam esse preceito, saindo de casa e indo para o mundo.

Feeling? Essa palavra era totalmente desconhecida.

A primeira vez que se ouviu isso foi nos anos 70 na música “Feellings” do Morris Albert. Mas a maioria cantava e nem sabia o significado!

Pressa?

Sim, tínhamos pressa! Mas era uma pressa para não ter pressa.

Era tudo feito com muuuuita caaaaaaaalma. Quase em slow-motion, palavra mais conhecida como câmera-lenta!

Como era bom o mundo de ontem, de anteontem e de outrora.

Porém, ver meu neto Bernardo e conversar com ele diariamente numa live, hoje não tem preço.

Mas fica ainda fica melhor quando aperto as bochechinhas dele, ao vivo.

 

 

 

 

 

Wanderley Dóro

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