O poder da literatura

No próximo mês de Abril, dia 23, exatamente na data em que se assinala o Dia Mundial do Livro, a cidade do Rio de Janeiro assumirá o título de Capital Mundial do Livro de 2025, concedida pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Um marco que tornará a capital fluminense a primeira cidade de língua portuguesa a receber prestigiado título, e não somente isto, consagrará sua importância na cena cultural global.
Não é de hoje que o Rio de Janeiro tem desenvolvido esse papel de fomentar projetos ligados à literatura, sendo também sede de grandes instituições e eventos da literatura nacional, como a Bienal do Livro, que acontece alternando anualmente entre Rio e São Paulo, e que neste ano decorrerá de 13 a 22 de Junho.

O poder da literatura é evidenciado não somente pelos registros comemorativos, mas sobretudo pela conexão cultural, promoção e desenvolvimento social.
Em um ano em que ela ganha maior abrangência nacional; e o Rio, destaque de anfitriã global, fundamentalmente pela honraria do título de Capital Mundial do Livro e de mais um ano de Bienal, suscita refletirmos que isto não é apenas uma conquista a ser celebrada, mas um lembrete da importância vital dos livros na construção de um mundo mais inclusivo e culturalmente diverso, a começar pela democratização do acesso à leitura, sem nos esquecermos de uma ampliada atenção às comunidades mais vulneráveis; que em se tratando de Brasil, podemos constatar que são inúmeras.

Contrariando expectativas, o Brasil que lê, ainda se esconde atrás de um Brasil que teve perda de quase 7 milhões de leitores em quatro anos, segundo o mais recente levantamento do Retratos da Leitura.
Este levantamento considera tanto a leitura de livros impressos quanto digitais, incluindo didáticos, bíblia e outros.
Considerando a estimativa populacional brasileira, os dados apontam que o país tem atualmente 93,4 milhões de leitores e nos últimos quatro anos, houve uma redução de 6,7 milhões.
Com isso, equiparamos a outro tema de extrema relevância, saúde mental.
O Brasil ocupa posições baixas em rankings internacionais e apresenta uma alta prevalência de afastamentos.
Em 2023 ocupou o terceiro lugar entre 64 países avaliados no relatório “The Mental State of the World”, onze pontos abaixo da média global, sendo também o quarto país mais estressado do mundo, com mais da metade da população acreditando que a saúde mental é o maior problema de saúde no país.

Há muitas percepções e desafios relacionados ao sistema de saúde no Brasil, mas com a crescente conscientização do bem-estar mental, lembramos que a literatura desempenha um papel fundamental neste sentido, nos permitindo experimentar uma ampla gama de emoções.
Ela tem relação comprovada com uma melhor qualidade de vida e se reafirma como importante meio de estímulo à melhora e diminuição do estresse e da ansiedade.
Por sua vez, a literatura é uma importante ferramenta em prol da melhora de nossas capacidades cerebrais, auxiliando no processo de reelaboração de questões internas e alimentando as habilidades criativas.
Os livros são verdadeiros estímulos constantes, que contrário às redes sociais, geram menor espaço para comparações dentro de um chamado universo de expectativas irreais.
A cultura da produtividade na maioria das vezes nos distancia do interesse de celebrar pequenas vitórias, das pausas essencias ou da prática da atenção plena.
Com isso, o estresse e o ciclo de insatisfação, corroboram para vivermos no modo “próxima meta”, deixando de lado as pequenas alegrias e projetando a felicidade e o bem-estar para um futuro inacessível.
Ficamos excessivamente focados na próxima conquista, porque nada já nos parece suficiente, e passamos a colocar fim aos pequenos prazeres da vida.
O impacto na saúde mental torna-se uma bola de neve, refletindo nas famílias e consequentemente, tornam-se responsáveis também pela defasagem de aprendizado, gerando assim um ciclo que atinge às mais variadas fases de vida.
Tudo isso resulta numa sociedade que mais comemora a literatura do que a celebra em prática.
É de extrema importância compreender o seu real poder de transformação e seu papel efetivo na criação de um novo futuro.
Ao pensarmos num mundo que lê, devemos entender que atitudes locais podem fazer diferença no hoje para um amanhã mais promissor.

 

Por Amanda da Silveira Lopes
Instagram: @faroldaspalavras

 

 

 

 

 

 

 

Amanda da Silveira Lopes

Saber mais →

Deixe um comentário