Propaganda e Cinema

A propaganda se inspira em muitas coisas, mas tem no cinema um parceiro fiel desde sempre. Porque, vira e mexe, ela está se inspirando em filmes da telona.

E se o cinema serve de inspiração, ele também é desafiador para o criativo publicitário.

Como transformar uma história de 2 horas de duração num comercial de 30 segundos?

Eis a questão.

Mas esse desafio também é inspirador.

Tanto, que muitos comerciais inspirados em filmes resultaram em muitos prêmios e sucesso para o produto anunciado.

Alguns diretores famosos dirigiram comerciais como Ridley Scott, David Fincher, Spike Jonze e até Federico Fellini, dentre outros.

Aqui no Brasil destaco Jayme Monjardim e Walter Salles Jr que, inclusive, dirigiu um comercial que criei para a Du Loren.

Nas 17 vezes que frequentei o Festival de Cannes de Publicidade eu e meus amigos brasileiros fazíamos uma aposta: qual seria o filme recente que inspiraria mais comerciais inscritos naquele ano.

Teve o ano do King Kong, o ano do Robin Hood, o ano Capitão Marvel, o ano do Capitão América, o ano do Super Homem e uma imensidão de filmes.

Mas o vencedor absoluto foi o ano do O Senhor dos Anéis. Teve comercial de biscoito, de margarina, de refrigerante, de macarrão, tudo baseado no Frodo e seus amigos.

Trazendo a questão para o Brasil também tivemos comerciais que fizeram sucesso porque foram buscar inspiração no cinema.
Um grande exemplo disso foi o comercial “Sonhos” para os chocolates Garoto.

Ele foi inspirado numa das sequências mais memoráveis da história do cinema: a cena em que Robert De Niro observa – por uma fresta -a dançarina no filme Era Uma Vez na América, em 1984, dirigido por Sérgio Leone.

No comercial do chocolate o garoto também observa por uma fresta a sua provável namorada dançando.

Os exemplos são muitos.

Mas vamos trazer para a propaganda atual no Brasil.

Ainda está sendo exibido um comercial de apostas com o ex-jogador de futebol Hernanes fazendo um duelo típico de faroeste.

E também um comercial de sanduiches inspirado na série Stranger Things.

Eu mesmo, durante a minha carreira de criativo publicitário, me inspirei em vários filmes para criar comerciais.

Alguns deles: Exército Americano, Forrest Gump e Fantasma da Ópera no lançamento do Walmart no Brasil. Um sósia brasileiro de Wood Allen para os comerciais de Loteria Federal onde ele contracenava com a Carolina Ferraz.

E também criei um comercial para o chocolate Suflair da Nestlé, inspirado na sequência do filme Perfume de Mulher, onde Al Pacino estava na mesa com a moça que exalava um perfume.

Só que, em vez do perfume de verdade, ele sentia o perfume do chocolate que a moça trazia na bolsa. O título do comercial era Perfume de Suflair.
O comercial foi aprovado pela Nestlé porém – snif snif snif – os custos para reconstituir a cena com Al Pacino e a atriz Gabrielle Anwar foram demasiadamente pesados e também porque Al Pacino estava em meio a uma outra filmagem.

Mas, como acontece no próprio cinema, tem vezes em que a história não acaba bem. Foi o caso desse comercial que não houve.

Até hoje penso, saudoso, na emoção que seria caso tivéssemos filmado o Perfume de Suflair.

Wanderley Dóro

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