EMBARGOS AURICULARES n° 350 “30 anos sem Ayrton Senna: Por que o piloto é considerado um herói nacional?”

Filho de uma família de classe média alta da cidade de São Paulo, Ayrton tinha tudo para ser qualquer coisa que quisesse. Resolveu ser o improvável: transformou-se em piloto de carros de corridas! Com o “paitrocínio” por detrás, ele voou cedo para a Europa e logo se transformou num fenômeno nas categorias que disputou até chegar na F1 que, por ironia do destino, a mesma equipe que lhe forneceu sua primeira oportunidade seria a mesma que também lhe contrataria para correr a última corrida de sua vida: a Willians.
Com a trágica morte em Imola, na Itália, Senna realizou sua última corrida quando colidiu com os muros da famosa “Curva Tamburello”, ainda nas primeiras voltas daquele fatídico Grande Prêmio em 1° de maio de 1994 que já tinha feito uma vítima fatal no dia anterior, o austríaco Roland Ratzemberger. Neste momento, Senna entrou definitivamente para a história como herói nacional.
Mas, por que Senna se transformou num herói brasileiro? Teria sido porque ele se tornou tricampeão mundial da F1? É verdade que ele era um gênio! Mas, nosso Nelson Piquet também era, bem como tricampeão, entretanto, não goza do mesmo status! Evidente que não! Sem dúvida, Senna se transformou num dos “super campeões” porque competiu contra outros grandes como Piquet, Lauda, Lafit, Arnoux, Prost, Mansell, Rosberg, e muitos outros.
Ele perdeu para todos, mas os venceu também. Mais do que isso, foram as formas que ele perdeu, valorizando a vitória de cada concorrente, pois tiveram que fazer muito além para vencer Ayrton. Da mesma forma que venceu a todos da maneira que venceu. Superou tudo e a todos. Inclusive a ele próprio e nem sempre em “céus de brigadeiro”, porém, muitas das vezes em grande turbulência no competitivo contexto da F1 – uma verdadeira “panela de pressão!
Mas, se nada dessas coisas fizeram dele um herói, então, o que o fez ser colocado numa “prateleira” que dificilmente se vê outro? Foi a identificação com o povo brasileiro! Senna era um homem rico, mas, por incrível que possa parecer, apresentava-se com simplicidade perante às câmeras. Sua comunicação com o público era de linguagem simples, objetiva e conseguia transmitir todo aquele emaranhado de técnicas em algo que qualquer um podia entender. Mais ainda! Senna era sinônimo da Bandeira do Brasil, das cores do Brasil, da torcida pelo Brasil! Se por um alado o povo brasileiro não queria ser Ayrton Senna como queríamos ser Pelé ou Zico – dois ícones do Brasil, sem dúvida – por outro, críamos que ninguém poderia fazer nada parecido ou próximo da forma com que Senna conduzia seus carros e, principalmente, sua imagem. Ele era a personificação de civismo e patriotismo no suor, no cheiro e na veia!
Senna era o representante que o povo elegeu para ser o que lhe faltava! O contexto nacional era de muita pobreza, falta de ética, época da transformação do Regime Militar à redemocratização do país, mas que “os homens” que estavam à frente dessa transformação em nada estavam preocupados com o povo brasileiro, porém, com adquirir poder e dinheiro. Ayrton era o oposto disso. Suas entrevistas e sua reverência ao Brasil destoavam de todo aquele falso mundo de esperança que era apresentado pela classe política e mídia da época.
Era preocupado com o brasileiro e aquilo que ele podia fazer era semear uma esperança verdadeiro em cada um. Não perdia, sequer, uma única oportunidade de motivar a todos em suas entrevistas, com sua postura, etc. Senna fez – às vezes com sutileza, às vezes na base da “marreta” – aquilo que a classe política fingia fazer: as palavras de Senna eram de esperança de uma vida melhor. Porém, desde que houvesse esforço e muito trabalho duro, em busca, ainda que não alcançasse, da perfeição. O exemplo vinha dele próprio.
Quem elegeu Senna herói foi o povo brasileiro. Quem o engoliu, foram as autoridades e os poderosos porque não tinham como resistir ao talento, a genialidade e, principalmente, à postura de um cara que só queria fazer o seu melhor e inspirar a todos. Muito diferente dos “ídolos” que a atual geração elege. São fracos, demagogos, hipócritas, egoístas, sem educação, sem formação, devassos, venais, etc. É por isso que Ayrton Senna foi, é e sempre será considerado um herói nacional. E, graças à internet, não deixará tais façanhas morrerem.
O 1° de maio no Brasil ficou muito mais colorido de verde, amarelo, azul e banco graças a Ayrton Senna. Até mesmo depois de morto!
Obrigado, Senna!
Forte abraço.

Marcos Túlio, Advogado e Professor de Direito

Marcos Tulio de Souza Bandeira

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