Vivendo e aprendendo a jogar
Vivendo e aprendendo a jogar
Nem sempre ganhando
Nem sempre perdendo
Mas aprendendo a jogar (Guilherme Arantes)
Há muitos anos um amigo contava numa roda de conversa que tinha um Opala parado na garagem – ele chamou o filho de 14 anos e disse: “filho, esse carro está aqui parado, vamos vender?” – o filho topou e vendeu o carro! Alguém da roda perguntou – “e aí, ele vendeu bem o carro?”, ao que o pai respondeu: “Que nada, foi um péssimo negócio, mas ele fez o seu primeiro negócio.”
Eu sempre gostei de jogos – desde os folguedos infantis, as peladas de rua, a prática esportiva; trabalhei criando e aplicando jogos em recreação, treinamento, processos grupais, onde se observam a tensão, as regras dinâmicas, a competição saudável, a ludicidade permitida, o superar de limites, e os aprendizados correlatos.
A vida em si é um jogo de dois tempos – o segundo tempo só começa quando entendemos que temos só uma vida! A forma como vivenciamos nossos desafios de curto ou longo prazo se assemelham a jogos que escolhemos para protagonizar – a derrota pode ser aprendizado (quem nunca perdeu não valoriza a vitória), a vitória pode representar cegueira e soberba (um dia nossos créditos acabam…). Vamos jogar um pouco com a imaginação:
XADREZ
Um jogo de regras simples que demanda excepcional memória e visão estratégica; só compensa jogar xadrez quando temos adversário à altura, que compreenda o jogo e faça movimentos inteligentes – o xadrez exige tempo, paciência e muita vigilância. Se o adversário não souber jogar, ele vai chutar o tabuleiro, e toda a sua brilhante estratégia terá sido perda de tempo.
PACIÊNCIA
Como em todos os jogos onde competimos com nós mesmos, de tabuleiro ou eletrônicos, desenvolvemos habilidades de perseverança, resiliência e senso crítico sobre nossa evolução e a pertinência de permanecer no jogo (para além da “auto honestidade” de não burlarmos as regras). Claro que não falo aqui de jogos de apostas, uma inutilidade danosa na vida das pessoas, mas das situações de lazer saudável. Jogar sozinho, no entanto, é como construir uma casa só com muros – perdemos o horizonte dos feedbacks (positivos ou não) e a oportunidade de compartilhar a espontânea e rica experiência da competição.
FÓRMULA 1
Esporte predileto das gerações (ou pessoas) que acreditam que o mundo acaba amanhã e devemos viver e consumir tudo hoje. Vencerá o mais rápido, mais hábil, mais sortudo, e aos perdedores, o esquecimento! Acelerar um carro a mais de 300 km por hora requer coragem, habilidade, estrutura de apoio (mecânicos, coaching, projetistas, logística), o que torna a competição possível para pouca gente; mas para quem gosta de acelerar, uma reflexão – a única coisa que justifica alguém entrar numa pista em velocidade alucinante, é saber que o carro tem freio…
BOXE
O que tenho certeza sobre o boxe: quando não ocorre um nocaute rápido, ambos vão apanhar muito. No boxe (assim como em qualquer forma de luta) é necessário força, técnica e instinto – é ter capacidade de apanhar e reerguer, conviver com os machucados, ter a dor como companheira. É para refletir se vale a pena entrar num jogo onde todos se machucam, ou se temos formas mais inteligentes ou divertidas de competir ou medir forças.
PÔKER
Muita sorte e alguma estratégia: acima de tudo, é o jogo da dissimulação, do blefe, da representação e fingimento. Jogar poker representa gosto pelo risco, praticado muitas vezes levianamente quando “nada temos a perder”, quando na verdade algumas derrotas custam muito, muito caro! Sem cacife, sem jogo!
JUDÔ
Judô significa em japonês “caminho suave”, ou “caminho da suavidade” – a arte marcial onde elegantemente aprendemos a trabalhar com a força do adversário – demanda empatia, respeito e interesse pelo outro, compreendendo sua forma de luta e adaptando movimentos para potencializar nossos golpes. Podem ser necessários muitos anos de preparo e crescimento para termos a humildade necessária de cumprimentar e honrar o perdedor, pois ele é parte essencial de nossa vitória.
SUMÔ
Se você não tem tamanho, força nem habilidade, o que está fazendo aí???
TORRE…
O famoso jogo da pilha de palitinhos que vamos retirando um a um – há tensão e distensão, sorte e habilidade, num jogo que a gente dá muita risada quando tudo dá errado! Talvez seja uma analogia interessante para lidarmos com perdas e ganhos, porque no jogo da torre, mantemos o aprendizado das derrotas, o prazer da diversão, e ainda ficamos com todas as peças para retomar a experiência.
Resumindo: Jogue-se! … com sabedoria!