UM SONORO AMIGO DE LONGA DATA.

Ele é meu amigo-amado-amante. Sim, porque ele está sempre ao meu lado. Somos praticamente inseparáveis. Almas gêmeas mesmo. Ele me entende, eu o entendo. Nunca brigamos. A contrário, a gente se completa. Me acalma quando tô puto. Me agita quando tô meio paradão. Ora pilhado, ora ligado nos 220 volts, como eu.

 Me inspira, me faz sonhar. Foi decisivo na minha carreira de publicitário, me ensinou a criar, a contar histórias.

Me leva para lugares inimagináveis. Do Rio Tietê ao Rio Hudson, Rio Danúbio, Rio Tâmisa e Rio Sena. E até ao Rio Ganges se preciso for. Me leva para onde eu quiser. Somos amigos do peito, da mão, da orelha! Até de cabeceira! Uma espécie de amigo do Facebook com sound design. Do Instagram, com fotos que falam. Me faz rir e chorar.

Sem nenhum pudor, acorda comigo e fica ao meu lado no banho e no barbear. No banho à noite também. Ah… no banho de banheira, então!

Passeia de carro comigo. Como um bom chef tagarela, está firme na minha cozinha. Fica direto comigo no meu computador, iPad, iPhone, iTudo. Não ousa, jamais, sair da minha sala lá de casa. Mas no quarto, a partir da meia-noite, é que o bicho pega. Aí, a gente literalmente rola na cama.

Valsamos, sambamos, rumbamos, bossanovamos e, sobretudo, jazzamos. Vibra e grita gol comigo. Urra de raiva comigo quando é gol contra.

Me diz se amanhã vai chover ou fazer sol. Às vezes erra tudo, mas entendo. Algumas vezes fica irritado comigo. Por exemplo: quando deixo ele desligado. Mas ri, feliz, quando eu o pego na mão, encosto no ouvido, fazendo ele ronronar baixinho para não prejudicar o ambiente.

Às vezes faz uns chiados como se estivesse com a garganta rouca. Tudo brincadeirinha dele para me provocar e atazanar… Logo volta a falar com a sua afinadíssima voz.

Vivi muitas histórias com esse meu amante fiel. Agora vou contar uma delas.

Fui assistir a Copa do Mundo de 98 na França, e levei ele comigo. Um desses de bolso, portátil, que cabe na mão.

Antes de viajar, fiquei sabendo que a Rádio Bandeirantes de São Paulo iria transmitir os jogos do Brasil em cadeia com uma rádio de Paris. Ou seja, os brasileiros que estivessem na Copa poderiam ouvir a narração pátria, como se estivessem no Brasil.

Eu, minha esposa e mais um casal de amigos brasileiros estamos na arquibancada do estádio Parc des Princes em Paris, para ver o jogo Brasil x Chile.

O jogo começa e ouço ao pé-do-ouvido o meu companheiro de viagem falando português. Até aí, tudo bem. Ninguém se tocou.

Não se tocou até sair o primeiro gol do Brasil. Eu aumentei o som. Dirceu Maravilha era quem estava narrando o jogo pela Band. “Goooooooooooooooooooooooool, do Brasil, Cesar Sampaio!!! O primeiro gol brasileiro Brasil em Paris…”

Aí, nesse momento, alguns brasileiros que estavam perto de nós se surpreenderam.

Um deles me pergunta: “Que porra é essa? Você está ouvindo uma emissora brasileira, com esse tijolinho aí???????”

Respondi: “Sim, essa é a rádio Bandeirantes de São Paulo, ouça aqui o Maravilha narrando…”

O cara ficou surpreso, sem saber o que dizer. E eu emendei: “Meu radinho é foda…. pega tudo o que é emissora de qualquer lugar do mundo… de qualquer país… que rádio você quer ouvir, diz aí”.

Aí, eu, minha esposa e o casal de amigos brasileiros que viajaram com a gente, não aguentamos mais segurar o riso.

Depois, mais calmos, explicamos do que se tratava. Os outros brasileiros ao nosso redor, felizmente, entenderam a situação e também caíram na risada. Um deles me disse: puxa, eu já ia perguntar onde eu poderia comprar um radinho assim… rs…

Já tive rádio antigo, rádio-vitrola, rádio-amador, moto-rádio, rádio à pilha, rádio à válvula, tudo o que é tipo de rádio que você possa imaginar.

Agora o meu rádio é digital com um som limpinho e forte.

E ficou chic no úrtimo porque posso acessá-lo no meu celular e ouvir emissoras de qualquer canto do mundo. De onde eu estiver.

Mas com certeza fico com uma imensa saudade do primeiro aparelho de rádio que ganhei de presente do meu finado pai.

Dia desses voltarei aqui para contar mais histórias vividas com a minha paixão inseparável.

Rádio, seu lindo!

Wanderley Dóro

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