SERÁ QUE NO FUTURO NÓS, HUMANOS, SEREMOS REALMENTE NECESSÁRIOS?

Quando a Seleção Brasileira de Pelé, Tostão e Rivelino tricampeã no México foi considerada uma máquina de jogar, eu fui implicante e disse pra eu mesmo: “Nunca mais vamos ter uma máquina de jogar bola como essa”.

Aí veio 82, com a Seleção de Zico, Sócrates e Falcão que não ganhou mas encantou o mundo. E foi outra máquina de jogar.

Quando Emerson Fittipaldi, considerado uma máquina de correr, campeão do mundo de F1, mais uma vez implicante eu disse pra mim mesmo: “Nunca mais o Brasil vai ter um piloto assim, nem que a vaca e os motores tussam”.

Depois vieram Pace, Piquet, e Deus ainda mandou um Ayrton Senna para o Brasil.

Junto, veio uma tecnologia absurda envolvendo as máquinas sobre rodas.

Os mecânicos passaram a ser meros coadjuvantes. E, o piloto, tenho minhas dúvidas se ainda tem toda essa importância. Até porque, carros já podem andar pelas ruas sem nenhum piloto dentro.

E os exemplos da mega velocidade de transformação, com máquinas e tecnologia, são muitos. Recentemente Elon Musk, da Tesla, enviou um carro ao espaço.

Para isso, ele criou a sua própria companhia espacial, a SpaceX, construiu seu próprio foguete.

Na publicidade, então, as máquinas vieram com uma velocidade que nem o mais otimista poderia imaginar.

Saímos de uma Olivetti portátil, onde se catavam milhos nas teclas, para as teclas do computador, depois para as teclas do smartphone.

Hoje, nem teclas precisamos, basta apenas usar as vozes da Siri e da Alexa porque elas fazem tudo pra gente.

Também não precisamos mais fazer aqueles velhos e bons desenhos à mão, esbôços que mais tarde seriam os layouts.

Hoje, muitas vezes, as soluções se encontram em bancos de imagens, direto no computador.

Planos de mídia eram feitos com dados, sim, mas o bom e velho feeling falava mais alto.

Mas, antes de prosseguir no papo sobre o universo da publicidade, uma pausa.

Uma pausa que faz todo sentido para tentar esmiuçar o assunto aqui.

Nesta pausa, me lembro logo do histórico filme Blade Runner, dirigido por Ridley Scott, e que se tornou um cult para os cinéfilos.

Recentemente, veio uma continuação do visionário filme e aí é que fui implicante mesmo:

”Ih… ferrou, nem que o Kurozawa volte da tumba o cinema não vai conseguir fazer um Blade Runner tão bom ou melhor que o primeiro”.

E fui ver! Cheio de dedos, pensando por que o que o jovem Dennis Villeneuve teve a pachorra, a audácia de mexer nesse vespeiro!

E fui com o espírito livre, leve e solto tipo… ok… o máximo que poderia acontecer era eu odiar o filme e sair soltando faísca.

Mas aquelas 2h40 minutos me deixaram petrificado na poltrona do cinema. Nem o irritante barulho de pipoca eu ouvi na platéia!

Como disse, não quero – e não vou – comparar os dois filmes porque este, apesar de ser uma continuação, é como se fosse outro.

É o mesmo filme mas é outro filme.

Manteve as previsões do primeiro e, sobretudo, deu um show de tecnologia, com sons e imagens beijando o absurdo do absurdo das possibilidades que a tecnologia pode alcançar.

Mais, Blade Runner 2049 deixou no ar uma série de questionamentos.

Cheio de metáforas, mostra que, por um lado, o futuro ainda conserva na memória dos quase perfeitos humanos e sensíveis replicantes algumas coisas boas dos dias de hoje. Muito boas, por sinal.

Por exemplo? O gosto musical do replicante K (Ryan Gosling) pelo Frank Sinatra, pelo cafezinho e pelo seu carro voador que, pasme, no distante ano de 2049 ainda tem limpador de pára-brisa!!!!!

Mas, por outro lado, com a perfeição de robôs, dotados de corpo, cérebro e sensibilidade, o filme sugere que futuro também pode ser assustadoramente cruel. Sem deixar de ser fascinante.

Fascinante, porque ele me deixou no ar uma pergunta bem enigmática: Será que no futuro, nós, humanos, seremos realmente necessários?

Essa mesma pergunta faço em relação às agências de publicidade e todo o universo que as cercam.

Porque, antes mesmo de discutir se a automação, a mídia programática e a criatividade podem trabalhar juntos para melhorar a publicidade, as agências precisam discutir algo que vem antes disso tudo: as próprias agências.

Independente do auxílio da tecnologia, as agências estão fazendo um bom trabalho?

Estão contando boas histórias?

Estão colocando na rua conteúdos realmente relevantes?

Estão depositando o futuro apenas nas costas dos jovens, prescindindo de pessoas com talento e experiência?

Por que essa carga excessiva só para os jovens?

Estão usando uma linguagem automatizada, fria? Meramente descartável?

Estão, ainda, em dúvida sobre se a TV é menos importante, se o digital é quem deve dar o tom, se o material impresso morreu, se as multi-telas é a solução?

O feeling está sendo superado pela automatização, pela máquina?

O medo de fazer diferente está sendo subjugado pelo modo de fazer o fácil, o frio, o calculista, o chato?

Será que uma nova assistente profissional com inteligência artificial vai resolver todos os problemas conectando milhares de funcionários de trocentas disciplinas, em trocentos países?

Que permaneçam conectados e possam identificar projetos com os quais queiram colaborar em diferentes mercados, antecipando as necessidades dos clientes através de ferramentas preditivas?

Mas onde se encaixam o cheiro, o olhar, o toque, o som de vozes, os idiomas locais, os sentimentos locais, a alma local, que independem de máquinas?

A teoria de McLuhan se sustentaria? Até quando? Algorítimo do Spotify. Algorítimo do Facebook. Algorítimo do algorítimo. Algorítimo da casa do chapéu.

Como acreditar nisso se as pessoas ainda confundem o Instagram postando textos lá?

Tudo isso vai implodir num poderoso vulcão de fakes?

Como as fakes news,que um dia elegeram o presidente americano mais idiota da história?

Como o Bitcoin, que está prestes a implodir e se tornar a bolha mais rápida da história em enganar incautos?

E quando a máquina começar a dominar a própria máquina?

Essa semana em Tóquio, pasmem, um robô foi morto por… outro robô!!!!!!!

Com tanta máquina, como seria o novo mundo no Brasil, em Marte ou em Ibitinga?

Não sei, não sei. Não sei e não consigo parar de fazer mais perguntas.

Tanto, que tudo me remete à primeira e mais angustiante pergunta que fiz lá no título:

SERÁ QUE NO FUTURO NÓS, HUMANOS, SEREMOS REALMENTE NECESSÁRIOS?

 

 

 

 

 

 

Wanderley Dóro

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One thought on “SERÁ QUE NO FUTURO NÓS, HUMANOS, SEREMOS REALMENTE NECESSÁRIOS?

  1. Sebastiaoregino 29 de julho de 2024 at 15:38

    Estamos vivendo um mundo tecnológico, sem darmos a real importância ao “humanoware”.

    Responder

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