Pela estrada afora…

Amanhã é sábado, 8 de março. Fico com medo de sair à rua e ser atingida por um botão de rosa qualquer ou talvez até um bombom voador.
Há décadas isto acontece e, até onde tenho notícias, a farta e hipócrita distribuição de botões de rosa não diminuiu em nada o índice de feminicídios. Acredito mesmo que este índice cresceu nos últimos anos.
Perdoem se pareço agressiva. Escrevo sob o impacto do assassinato de uma adolescente de dezessete anos, atacada na madrugada a caminho de casa, depois de ter trabalhado o dia todo em um shopping. E como diz aquela canção infantil “ela mora longe, o caminho é deserto e o lobo mau parece estar por perto…” e tanto estava que a menina o pressentiu e pediu socorro a uma amiga. Depois chamou pelo ex-namorado. Mas o socorro não veio.
Foi encontrada mais de uma semana depois da noite em que deixou seu trabalho, tomou um ônibus e desceu no ponto de sempre…
Quando a encontraram, a menina nem estava mais lá. Recolheram apenas a casca do que fora seu corpo abusado e vilependiado.
E o que restou dela ( uma foto sorrindo e o som de sua voz em gravações) se transformou em matéria de programas jornalísticos de gosto duvidoso, com policiais, visivelmente chocados, que prometem buscar o autor ou os autores do crime bárbaro.
Crime bárbaro que será esquecido assim que um outro o superar, quando as pessoas enjoarem de ouvir o nome da adolescente e de tentarem, como se cada expectador da matéria fosse um Sherlock Homes, descobrir o assassino e sua motivação. Ou, quem sabe, quando o culpado for preso e, talvez, confessar que a matou “por amor”.
Pensando melhor: talvez ofereçam rosas às mulheres, como se leva uma coroa de flores ao velório. Uma coroa antecipada prevendo o destino que cada uma de nós, mulheres, sabemos possível.
Qual mulher, criança ou idosa, não passou por esse temor algumas vezes na vida? Qual de nós nunca se sentiu ameaçada por enfrentar o patriarcado? Quantas de nós nos submetemos à força masculina, seja a física ou emocional, para preservar um relacionamento amoroso, familiar ou de trabalho? Quantas de nós deixamos de usar uma saia mais curta, uma roupa mais transparente para não despertar a ira ou o ciúme do companheiro?
Neste Dia Internacional da Mulher poupem as rosas! Preferimos que não nos matem!
E nos presenteiem com o que realmente queremos e precisamos: Respeito!

Henriette Effenberger

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