O Cansaço que Não é Só Físico: o mito da força o tempo todo
Vivemos em uma época em que estar cansado virou quase sinônimo de estar vivo. As pessoas respondem “exausto” quando alguém pergunta “como você está?”. Mas será que esse cansaço é apenas físico?
Muitas vezes, o corpo até descansa. O problema é que a mente não para. Gira como um ventilador ligado no último nível, movida por prazos, notificações e cobranças invisíveis. É aí que nasce o cansaço emocional: silencioso, profundo, corrosivo. Esse tipo de desgaste não se resolve com um fim de semana prolongado. Ele exige algo muito mais radical: repensar a forma como estamos vivendo.
A cultura em que estamos mergulhados idolatra a performance. Dormir pouco é sinal de dedicação. Estar sempre ocupado virou status. Reclamar do excesso de tarefas é quase um troféu. Só que por trás desse teatro da produtividade, o corpo cobra, a mente se desorganiza.
Quantas vezes você já disse a si mesmo: “aguenta só mais um pouco”?
Esse é o falso heroísmo que nos quebra por dentro.
Resiliência não é ser pedra, que apanha em silêncio até se estilhaçar. Resiliência é ser água: que se adapta, recua, flui, mas nunca deixa de ser água.
O cansaço contemporâneo é multifacetado. Ele não é apenas físico. É emocional, social e até existencial.
É o cansaço de sorrir quando não dá vontade. De engolir palavras para evitar conflitos. De vestir armaduras todos os dias para não ser atingido. De corresponder a padrões que não escolhemos, mas seguimos porque “todo mundo segue”.
E aqui está o mais inquietante: talvez não estejamos apenas cansados, talvez estejamos anestesiados.
Rolamos vidas alheias em telas sem fim. Compramos coisas que não precisamos. Repetimos frases de motivação que não acreditamos. E ainda assim, vamos dormir exaustos, sem entender por quê.
Admitir que não dá conta virou quase um pecado social.
A sociedade quer que sejamos robôs, programados para produzir sem questionar, para sorrir sem sentir, para funcionar sem falhar, para agradar.
O problema é que não somos robôs, somos humanos. E quando tentamos viver como máquinas, inevitavelmente quebramos.
Parte do cansaço vem do esforço de sermos quem não somos, algo que, às vezes, até parece necessário no convívio social.
Mas… será realmente possível sustentar uma identidade fabricada para caber em todos os ambientes, o tempo todo?”