O homem que me deu a possibilidade da clareza era um anjo, de asas tortas, uns 30 anos mais velho, chacoalhava-se em trem, trabalhava sem descanso, carregava seus traumas – infância difícil –, mas superou-se seguindo com afinco a sua reforma íntima. Sempre trabalhador na seara de Jesus, com muitos amigos da Espiritualidade atuantes em tarefas diuturnas, foi o ser humano que, para mim, mais se mostrou humanista; que melhor mostrou a delicadeza de ser; entendia a humanidade terrestre tal como ela é, dava-lhe o valor devido. Amava-a profundamente. Falou-me sobre a Santidade do Pai; apresentou-me a divindade que habita na essência dos filhos de Deus, a espiritualidade – nada sabia eu.
Suas palavras poderiam ser duras ou dóceis, tudo dependia como meu íntimo as fariam ecoar. Sem dúvida, possuía o melhor método de ensinar poesias: ficávamos no interior dos interiores olhando calmamente os brilhos dos astros em noite amiga; nos centros das flores seguíamos; nas poeiras das estradas dávamos graças; abraçávamos árvores; ríamos da felicidade em fazer xixi na mata em noite fria – muitos professores poderão ensinar o que é poesia, muitos não saberão fazê-la.
Esse anjo disfarçado de homem, amava as pessoas como irmãos universais, orava por todos. Trabalhava espiritualmente tanto, que se confundia em que plano, qual dimensão permanecia.
Seu tempo minguando, sua lembrança fugindo, nosso cordão se rompendo, e lá se foi o homem-anjo voltar para as estrelas que é seu lugar. Uma semana após seu aniversário, vieram me dizer que mais uma estrela nasceu em vinte e oito de dezembro de dois mil e três. Na mesma noite, veio visitar-me – eu sabia que viria –, sem abraços, breve diálogo mental, no impulso de lhe tocar ele sinalizou o impedimento.
Contive-me, não sei como.
Diante dos meus olhos tornando-se cada vez mais novo até transformar-se em menino, criança, angelical, livre, sendo levado em companhia de um homem de vestes do tempo antigo, casaca e cartola, deixando para trás a mim que agora sabe da existência de Deus, e da importância de todos os seres fazer poesias. Na sequência, em desdobramento, estava eu no ambiente de minha antiga casa onde passei a infância e uma folha de jornal veio planando até cair perto de mim. Olhei com atenção. E lá estava estampada a foto daquele senhor inglês à moda antiga. Despertei.
A oliveira deu seus frutos, dos frutos o azeite puríssimo que permitiu a chama de minha alma.
Gratidão, Rubens de Oliveira!
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E A CONTINUAÇÃO…
Neste março de 2021, em desdobramento sou levado a encontrar-me com o Espírito de Rubens de Oliveira. Estava ele em um imenso navio em movimento, que, colossal, ao se movimentar deixava suas “marcas” nas águas fluídicas parecendo ser mar. Eu somente o via e a mais ninguém. O meu mais querido amigo. E quando ele olhou para mim uma energia, uma emoção grandiosa tomou conta de toda minha alma, meus olhos começaram a se transformar em suaves cachoeiras… Veio ele me informar que estava fazendo a “travessia”, voltando, em viagem de reencarnação.
Despertei.
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As minhas homenagens ao meu mais amplo amigo, irmão, professor, anjo das oliveiras, e mais que um pai, Rubens de Oliveira.