ESTUPROS E FEMINICÍDIOS. DUAS PRAGAS QUE ANDAM DE MÃOS DADAS.

Há quase duas décadas eu criei uma campanha de utilidade pública sobre as drogas que matavam pessoas, especialmente o crack.

E como seria essa campanha? Craques do futebol falando sobre o crack.

Neste contexto, entrariam na campanha um craque do Palmeiras, um craque do Corinthians, um craque do São Paulo, um craque da Portuguesa e um craque do Santos.

Com os roteiros na mão passei a ligar para os clubes acima para saber se eles liberariam os seus jogadores para que participassem da campanha.

E assim fiz.

Liguei para todos os clubes citados e todos se prontificaram para liberar o seu respectivo craque.

Menos um: o Santos FC.

Ao telefone, falei com uma pessoa que me atendeu.

Expliquei do que se tratava e ela me transferiu para o ramal onde supostamente estavam os jogadores.

Então, outra pessoa atendeu, expliquei do que se tratava e essa pessoa me disse que o time principal do Santos estava no Exterior em excursão preparatória para as competições daquele ano.

Os únicos jogadores que estavam treinando eram das categorias de base. Inclusive eles terminaram de treinar naquele momento.

Então, essa pessoa me disse que, se eu quisesse, poderia falar com um menino de 16 anos que é um craque e que prometia se tornar um grande jogador.

O nome dele era Robson.

Respondi que sim. E a pessoa colocou esse futuro craque na linha para falar comigo.

Daí, seguiu-se o seguinte diálogo entre mim e o garoto promissor.

Eu: Olá, Robson, bom dia, tudo bem?

O menino: Tudo bem.

Eu: Gostaria de participar de uma campanha contra as drogas? Os jogadores do Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Portuguesa já toparam. Você topa?

O menino: Topo. Mas qual é o cachê?

Eu: Não tem cachê. É uma campanha de utilidade pública.

O menino: Ah… sem cachê eu não topo não.

Eu (decepcionado):  Que pena… pena mesmo. Seria muito legal você vestir a camisa do Santos dando um depoimento sobre o perigo das drogas. Mas obrigado pela atenção!

Papo encerrado alí.

Aí, pensei, não dá pra fazer uma campanha tão importante e não colocar um representante do Santos FC.

Aí, por causa disso, a campanha foi abortada.

Passaram-se quase duas décadas, vem a notícia que um jogador brasileiro do Milan tinha participado de um estupro coletivo numa boate da Itália.

Quem era esse jogador?

O Robson, com quem havia falado ao telefone.

E quem era o Robson?

O Robinho, o garoto criado no Santos! O rei das pedaladas!!!!

Fiz todo esse preâmbulo para dizer que a vida é mesmo curiosa, muitas vezes cruel.

Na maioria absoluta das vezes, essa crueldade sobra para as mulheres.

É impressionante o número de casos de estupros e feminicídios que ocorrem diariamente no Brasil e no mundo.

Existem muitos assassinos e abusadores soltos por aí.

Alguns são anônimos, mas alguns também são tão famosos como o Robinho.

Que estupram. Que matam. Ou que fazem essas duas coisas ao mesmo tempo.

Toda vez que vejo um caso de estupros ou feminicídios na televisão, meu pensamento se volta imediatamente para a minha filha.

E logo a seguir penso na dor dos pais e mães que têm filhas estupradas ou mortas.

A lei brasileira é frágil e perversa.

Na maioria das vezes os estupradores não são descobertos.

E se são descobertos não cumprem pena, ou a pena merecida. Idem com os que praticam feminicídios.

Nossos políticos não ajudam em nada para que a sociedade fique livre desses vermes.

Pelo contrário, fazem vista grossa. Aliviam e protegem com leis brandas.

No jogo da vida, a dor fica sempre para as mulheres.

 

 

 

Wanderley Dóro

Saber mais →

Deixe um comentário