Criadores do Possível XXIV – A Taça Meio Cheia – por Gianmarco Bisaglia

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!   (Versos Íntimos, Augusto dos Anjos)

 

Enxergar a metade da taça cheia ou vazia é define as pessoas que acreditam abundância ou na escassez. Os que acreditam na abundância enxergam os ganhos coletivos de forma generosa, percebem e celebram as conquistas e conseguem o valor do grupo sobre os interesses individuais; a crença na abundância é a base para a cooperação, é a raiz da democracia e senda da solução de problemas com base no diálogo, na soma de talentos e na percepção que o amanhã será possível e melhor que ontem! Quem acredita na abundância agradece todos os dias pela meia taça cheia!

Na outra mão, quem acredita na escassez trabalha com o conceito de que tudo que existe não será suficiente para todo mundo, portanto, devemos competir e garantir a nossa parte, ou mesmo tomá-la ao nosso companheiro. Estas pessoas costumam colocar seus desejos e prioridades em primeiro lugar, raramente agradecem ou pedem licença, nem reconhecem o valor de quem está a seu lado… ao enxergar os parceiros como adversários, fecham portas para o próprio crescimento e vivem em zonas de conforto e isolamento, experimentando sentimentos de cinismo e ressentimento por aquilo que não possuem. Somente enxergam a metade vazia da taça…

Este mundo de mágoas ao longo do tempo se transforma em feridas profundas na alma egóica, ao contrário da gratidão e do perdão, que iluminam caminhos de confiança e reconhecimento, criando vínculos duradouros e parceiros para as jornadas mais difíceis.

Quem acredita na abundância sabe mais sobre o valor das coisas, ações e pessoas, que sustentam conquistas coletivas; os crentes da escassez colocam seu preço em tudo, sentem-se injustiçados pelo que não possuem e olham com inveja o jardim do vizinho, na crença inútil que o mundo lhe deve alguma coisa, lamentando o que não ganhou ou eventualmente perdeu. Quem põe preço faz as coisas perderem a essência e valor…

Quem não é grato, é ressentido – ressentimento, como diz o ditado, é tomar veneno esperando que o outro morra… até o pior dos seres humanos merece perdão ou gratidão de alguém! Vamos olhar sempre para a parte cheia da taça, crer e lutar pela abundância e jogar nossas mágoas no lixo todo dia antes de dormir. Seremos seres mais íntegros e evoluídos!

 

Gianmarco Bisaglia

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