Quando a gente ama é claro que a gente cuida,
Fala que me ama só que é da boca prá fora…
Ou você me engana ou não está madura(o),
Onde está você agora… (“Sozinho”, Peninha)
Este artigo eu dedico à Bianca, minha amiga e companheira com quem compartilho muitas resenhas sobre o tema!!
Qual o casal que nunca viveu uma discussão de relação? Sejam simples e corriqueiras, complexas e profundas, agressivamente idiotas ou hilariamente históricas, as DRs fazem parte da história do relacionamento, e podem representar tanto o amadurecimento do casal, como uma eterna batalha de egos, brigando furiosamente pelos ouvidos selados do outro(a).
Vamos destacar aqui algumas situações – as DRs se apresentam diferentes conforme o estágio de relacionamento (o quanto e como as pessoas se conhecem e interagem), e de impactadas pelos pactos firmados (ou não), que permitem compreender e ajustar comportamentos em função dos valores de ambos. Bom também destacar que discussões e conflitos são normais em relacionamentos saudáveis, onde ambos são livres para exercer sua individualidade e se empenham para tornar melhor coisas que já são boas – sinalização que existe afeto e confiança para florescer o relacionamento!
Por outro lado, em relações doentes, onde há clara evidência dos papéis estigmatizados da vítima, do algoz ou salvador, o diálogo inexiste fora do teatro de dor e sofrimento, e conforme o grau de co-dependência, conflitos se tornam insolúveis, desaguando em situações de violência, ou talvez pior, de perda de identidade, tristeza e impotência.
Discutir a relação é um momento de desprendimento onde mais importante é zelar para que o outro esteja bem, não descompensando as necessidades internas de cada um; trata-se de imaginar uma caminhada lado a lado, em que a relação seja uma experiência positiva para ambos. Respeitar os espaços individuais (o nosso e do outro) reafirma as duas identidades, únicas e diferentes, que se unem na oportunidade de compartilhar uma vida em comum. Neste cenário, é fundamental o espaço e oportunidade de apresentarmos ao outro o que sentimos e como pensamos, cuidando que nosso diálogo não descambe para uma discussão de egos ou intelectualidades.
Quando as expectativas básicas não foram pactuadas e os fatores de insatisfação não são percebidos da mesma forma por ambos, qualquer coisa no dia a dia nos irrita; passamos a ter reatividade intensa em relação ao outro(a) e qualquer palavra mal colocada (ou não colocada), um telefonema não atendido (ou mal atendido), uma postura espontânea (ou excesso de formalidade), tudo pode significar fator de insatisfação, exasperação ou conflito.
As chamadas relações tóxicas escalam a partir destes pequenos desafios em que podemos escolher a verdade, a transparência e a tolerância, versus comportamentos de manipulação, comunicação velada ou frágeis compensações paliativas (os famosos “panos quentes” na forma de desculpas sinceras ou não, flores, bombons, jantares ou sexo alucinado). Seja nas relações de casais que vivem juntos há muito tempo, jovens e recentes namorados, amantes ou ficantes, se demanda um patamar mínimo de respeito e tolerância para chegar numa relação de boa convivência. As relações onde não perdura o diálogo dificilmente prosperam e com alguma sorte, só melhoram quando passam por divã de terapeutas.
Problemas externos podem certamente interferir em nosso humor e impactam a forma como um casal lida com problemas financeiros, doença na família, educação de filhos, diferenças religiosas ou políticas. Cabe então a prática permanente da empatia, nos colocando no lugar do outro, sentindo suas dores e olhares – só quem calça os sapatos do outro, sabe onde os calos apertam.
Podemos pensar nos relacionamentos como um encontro de duas crianças que resolvem brincar de Lego – trazem seus jogos e despejam as peças no tapete da sala, para perceber que as peças são diferentes e não se encaixam – neste momento, a coisa menos importante é o manual de instrução! Discutir a relação é nos despir um pouco daquilo que acreditamos, é repensar valores e abrir mão de posturas e comportamentos que não contribuam para o projeto comum, algo que precisa ser MÚTUO, ou se torna DESONESTO, e precisa ser SINCERO, ou fica INSUSTENTÁVEL.
Reflexão bônus: “Roberto Freire”
“Eu te amo, logo não preciso de você; no amor encontramos a inspiração e prescindimos do necessário…, logo, somos absolutamente desnecessários um para o outro”