Chedids em declínio com Edmir?

Na política desde 1976 aprendi a ler nas entrelinhas e conhecer o político pelos gestos. Como militante da esquerda, sempre briguei muito com membros e apoiadores da direita, até aprender que existem semelhanças entre todo, pelo menos no Brasil, onde não existe esquerda, ou se resume a 4 ou 5 elementos, nem a direita, composta por uns 10 empresários, nenhum político.
A politica brasileira é dividida entre os mais ou menos progressistas de um lado, os mais ou menos conservadores, do outro lado e os oportunistas.
Os mais ou menos instruídos seguem os mais ou menos progressistas. Os mais ou menos ignorantes, seguem os conservadores e os mais desonestos seguem os oportunistas.
Na politica da minha cidade, sempre fui oposição aos dois grupos principais, até que percebi que os dois eram o memo grupo, desde 1964, pelo menos, e que só esses grupos elegiam prefeitos e sucessores desde a saída de Lourenço Quilicci.
Confirmei minha tese na cassação de Jesus, quando o pretenso adversário, Jose de Lima, era a voz mais forte para tentar me convencer a desistir da ação. Não conseguiu, eu sou teimoso, mas após escrever a biografia de Lima, tendo acesso a documentos, matérias, entrevistas e fotos, aprendi a conhecer o Zé de Lima e de certa forma manter uma proximidade amigável com ele.
Foi a partir de 2006, enquanto secretário de cultura, que passei a ter mais acesso a Jesus Chedid, algo inimaginável por sua assessoria e por mim mesmo. Eu, de esquerda, tendo grandes conversas com os dois inimigos da direita. O primeiro contato entre eu e jesus, foi no réveillon, acho que em 2004, eu estava Guarujá e ele ligou por volta das duas horas, para desejar feliz ano novo. No dia seguinte nos encontramos, eu Jesus e Aguirre, mas em 2006 ele, Jesus, passou a ligar rotineiramente. A partir de 2010 começamos a conversar mais e era engraçado ver a cara de seus assessores quando eu chegava. A principio eu tinha muita desconfiança sobre essas conversas, louco por teorias de conspiração eu queria saber o motivo de seu interesse em conversar comigo, teoricamente um cara que só lhe prejudicou.
Ao ser questionado Jesus deu duas respostas. “1- Em 1992 suas broncas com o Nicola e e desejo de mudança, trouxeram Nabi para meu lado, no ultimo minuto da convenção, após uma conversa sua com ele na Estancia. Eu ganhei a eleição. 2- Qualquer coisa que eu fizer, minha assessoria concorda e elogia, eu fico sem parâmetros. Já você me fala o que pensa, por isso, as vezes te ligo.
Eu entendi melhor o jogo de lima e Chedid, quando perguntei porque Jesus não apoiou Vilaça em 1996, já que seria uma eleição ganha. Ele me respondeu, “se eu o apoiasse eu voltaria em 2000? Então o questionei sobre Lisa, seu candidato na época, do porque ele tirou o pé no fim da campanha e, ao que tudo indicava, deixou o Zé de Lima vencer. Pelo mesmo motivo, ele respondeu, nesse caso poderia ser uma péssima gestão, eu não voltaria depois e em 2000, o Zé me devolveu.
Com Jesus falávamos sobre tudo e ele não tinha cuidados em falar sobre questões pessoais e familiares. Mas essas conversas esclareceram a divisão de poder entre dois pretensos inimigos políticos, dois grupos que eram os mesmos. Lima e Chedid.
A reeleição de Jango em 2008, onde Sartori, segundo suas próprias pesquisas, tinha grande chance de vitória, com suas intervenções e a eleição de Fernão Dias em 2012, passavam pela mesma visão de poder. Esses dois últimos lhe deram a garantia de vitória em 2016 e 2020. Não representavam nada politicamente e seriam seus maiores cabos eleitorais. Basta ver os números dessas eleições.
Por tudo que conversávamos, acredito que Jesus tinha no neto, seu principal nome para 2028 e se possível, um candidato fantasma, outro, e a vitória de Lima. Esse era um roteiro esperado por qualquer historiador da cidade, mas seu falecimento deixou o grupo sem a principal cabeça pensante.
Talvez pela ocorrência médica de Edmir, questões de mobilidade e discordância com o pensamento do pai, ou talvez até por uma natural prepotência, devido a tantas eleições na ALESP, Edmir se torna candidato e vence com a fama do pai.
A principio eu pensei que Edmir como prefeito criaria uma nova era no império familiar. Era a terceira geração no poder, deveria estar aprimorado e com o conhecimento adquirido e uma astucia visível, faria uma administração excelente, faria um sucessor de confiança e fora da família e levaria seu filho a vitória em 2028. Eu cheguei a conversar sobre isso logo após as eleições, mas cometi um grande erro de análise.
Edmir começou errando. Errou no secretariado, afastou elementos importantes do grupo e confiança do pai, tentou ser pluralista, num secretariado onde poucos são capacitados, me pareceu até que pagava favores anteriores em alguns casos e elevava muito a qualidade eleitoral e capacidade de certas pessoas em outros. Edmir não tem um conselheiro. O cara de confiança, aquele que fala a verdade e manda a merda se necessário.
Edmir conseguiu unir uma população politicamente ignorante contra seus principais atos. Isso é raro numa cidade conservadora. No IPTU desagradou todos e eliminou da politica alguns vereadores. Na questão da compra de ônibus, pareceu estar propenso a pagar um apoio eleitoral, de tão absurda que é sua proposta. Conseguiu piorar um sistema de saúde que era satisfatório. Concordar com escolas militares, para a futura produção de mão de obra obediente, era algo inesperado em um político experiente. Fortalece a ignorância, além do necessário para uma eterna manutenção de votos. Cultura e turismo esquecidos. Conservação da cidade abandonada. Apoio aos radares e pedágios de um governador forasteiro, no qual ele mesmo não deve ter votado em vez de cobrar do estado, as estradas e segurança que a cidade tem direito.
Ressalto que ninguém da oposição fez tanto estrago quanto o herdeiro da coroa, Edmir, e volto a falar, jamais imaginei. Pelo pouco que já conversei com Edmir, esperava uma administração até agressiva no sentido de feitos positivos.

Antonio Sonsin

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