CARTA AOS AGRESSORES

O machismo social enraizado os conformou e educou ao mundo estreito da misoginia e à violência que assolam mulheres por todo o mundo.

Mas isso não é desculpa para sua falta de controle dos sentimentos, despejando sua raiva em outro ser mais frágil fisicamente, convolando-se numa das piores formas de violação dos direitos humanos.

Você sabe que impor sua vontade em contraposição ao livre arbítrio da mulher fere frontalmente direitos constitucionais, essenciais e imponderáveis, liberdade de escolhas, opinião, crenças, questões que reverberam direitos de ordem pública, relacionados diretamente com os sentimentos de justiça e moralidade.

Você já sabe que ela não é tua, ela não é de ninguém, somente de si própria. E apesar do seu ciúmes, ela é tão livre quanto você, sendo a liberdade um dos direitos e garantias fundamentais de nosso País.

Praticar uma conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal, dano emocional, violência sexual, patrimonial ou moral implica em graves violações ao Estado Democrático de Direito que é princípio maior, valor nuclear de nossa Constituição Federal.

A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para florescer.

O afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, permitem o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada cidadão, permite ideais solidaristas, democráticas e humanistas.

Mesmo que a palavra afeto não esteja no texto constitucional, o Direito como um todo enlaça o afeto no âmbito de sua proteção e a vida em comum só se justifica sob o seu manto, sempre como forma de proteção dos valores representativos da família e da mulher.

E o afeto morre com a violência, que pune, limita, castra e inibe, violenta e descontrói o ser, violentando consciência e liberdade, causando uma dor certamente dilacerante ao psicológico e estas dores são as que mais demoram a sarar.

Assim, o afeto acaba. Como diz Vinícius de Moraes: o amor é bom enquanto dura e ele já não existe mais quando se transforma em posse, doença da alma, escravização do espírito, egoísmo do ser.

Você refuta que a ama, então a deixe viver segundo seus hábitos, suas ambições, suas opiniões e gostos e não tente moldá-la ao que você gostaria que fosse.

Não imprima ao outro uma limitação que você mesmo não gostaria para si mesmo, dê espaço para ela trabalhar, ir e vir, ter amigos, para que, ela viva os mesmos bons momentos que você tanto gosta e usufrui.

Se o laço do afeto respeitoso se desfez, solte o laço e siga respeitando memórias e boas lembranças, respeite as individualidades que se separam para seguirem seus caminhos aprendendo sozinhas.

Quer reconquistar? Somente se existir o reeducar da mente e das concepções limitantes, aprender a ver o afeto como proteção e não como algo que sufoca e violenta.

As mulheres são fortes sim, e tem uma habilidade rara no doar-se, no acolher, no amor, algumas são mães altruístas e se doam por toda uma vida, mas quando dizem não, devem ser ouvidas, e este é um limite que exige policiamento teu.

Que você possa entender que de fato amar é proteger e proteção inexiste sem liberdade, perdão, renúncia e compreensão mútua.

Se liberte dessas amarras que o social criou para você em nome de um falso “Eu”, um Ego inflado e aprenda que amar é fácil e leve e não pode machucar ninguém.

Ninguém é obrigado a se submeter ao outro, a felicidade desse modo perece e cria funestas consequências.

Poupe energias tuas ao se afastar de regras retrógradas e que somente subvertem tua consciência, àquela guia mestra que sempre nos guia pela escuridão com a força da razão, afastando as paixões nefastas e desequilibrastes que tanto corrompem este Mundo.

Enfim, se ela diz que não te quer mais, siga sua vida  entendendo que quem ama liberta, não acorrenta, e que ela não está só, mas unida e apoiada não só por estes valores que refletem toda uma sociedade mas por órgãos institucionais ativos e competentes.

 

 

Fabiola Machareth

Saber mais →

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *