Predadores e Frágeis: O Colapso do Humano

Predadores e Frágeis: O Colapso do Humano

Vivemos um tempo em que os papéis sociais foram subvertidos. A sociedade parece ter sido reduzida a dois arquétipos extremos: os predadores e os frágeis. De um lado, indivíduos que perderam qualquer traço de empatia, dispostos a destruir o outro em nome de status, poder ou mera satisfação narcísica. Do outro, os emocionalmente exauridos, esmagados por um mundo que exige força constante, mas oferece cada vez menos sentido.

O respeito — outrora pilar da convivência civilizatória — tornou-se um resquício romântico. O que antes era valor, hoje é fraqueza; o que antes era virtude, hoje é ridicularizado. A cultura do espetáculo, somada ao egocentrismo pandêmico das redes sociais, transformou o sofrimento em conteúdo e a opinião em arma. A compaixão foi desfigurada, substituída por uma indiferença elegante, fria, travestida de liberdade individual.

A consequência? Uma epidemia silenciosa de depressão, ansiedade e desatinos. Pessoas estão adoecendo não apenas por causas clínicas, mas por um esvaziamento moral e relacional. Falta pertencimento. Falta propósito. Falta humanidade. As relações humanas se tornaram transações; os vínculos, contratos frágeis que se desfazem diante da menor contrariedade.

O paradoxo é brutal: nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão sozinhos. A tecnologia que poderia aproximar, distancia. O discurso que prega tolerância, exclui. A liberdade que prometia autonomia, isola. E nesse cenário, os frágeis vão caindo em abismos emocionais, enquanto os predadores avançam, certos de que vencer é pisar.

Mas é preciso dizer com todas as letras: isso não é progresso. Isso é colapso. O colapso de uma sociedade que já não se reconhece como comunidade. Que já não forma, apenas consome. Que já não sonha, apenas compete. E onde o humano, em sua plenitude, foi desvalorizado a ponto de ser descartável.

É urgente reconstruir. Não um novo sistema — esses se sucedem e fracassam com frequência histórica — mas um novo olhar. Ou melhor: um velho olhar que resgate aquilo que nos constitui como espécie pensante e sensível. O cuidado. O afeto. O senso de limite. A consciência de que não somos ilhas, e sim parte de um mesmo naufrágio.

Talvez só assim possamos sair dessa selva em que a brutalidade virou norma e a dor do outro, ruído.

Mario Doro

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One thought on “Predadores e Frágeis: O Colapso do Humano

  1. Marcos Tulio de Souza Bandeira 29 de junho de 2025 at 13:01

    Concordo! O texto analisa o contexto atual sem predileções ideológicas, porém, retratando uma mudança nociva na ótica e principalmente no perfil de quem (conjunto de pessoas) que manipulam as redes sociais também. Perfeito 👍🏽

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