DOIS CAIPIRAS NA COPA DA FRANÇA EM 98.

Conhecer e trabalhar com o Jack foi uma dádiva.

Caipira que também sou, tinha muita identificação com ele. Na maioria das vezes a gente se entendia pelo olhar.

Era engraçado, dois caipiras inveterados, lidar com gente da Capitar!

Às vezes, a gente se chocava com a frieza da cidade grande.

E, quando isso acontecia, íamos almoçar a afogar as mágoas, geralmente num restaurante ao lado do Mackenzie, na Rua Veridiana, em Higienópolis.

E na hora do almoço era um fuzuê, porque quando estávamos almoçando saía uma turma e entrava outra.

Era uma verdadeira passarela.

Enquanto almoçávamos, o Jack esticava o olhão para as menininhas mackenzianas que passavam em frente do restaurante.

O Jack olhava pra elas e sempre dizia o seu bordão preferido:

“Caraio, aqui até as fêia são bunita!”

E eu ria!

E nossa vida era assim, trabalhar, almoçar, rir. E também ríamos muito quando a gente saia para almoçar em bando com o pessoal da criação.

Jack e eu sempre fomos fanáticos por futebol.

Ele, são-paulino. Eu, palmeirense.

A gente vivia quebrando o pau quando um time ganhava do outro.

A única vez que não discutimos sobre futebol quando fomos assistir à Copa do Mundo de 98, na França.

Juntamos o Festival de Cannes com a Copa.

Primeiro, assistimos à Noruega 2 x 1 Brasil, em Marseille (dia em que o zagueirão Junior Faiano (é Baiano mas eu apelidei ele de Faiano pelas barbaeiradas que dava na zaga).

Aliás, a derrota do Brasil nesse primeiro jogo se dele justamente ao Júnior Faiano. O Jack queria matá-lo, ficou puto. Gritava lá da arquibancada: “Seu fiadaputa, perneta, lazarento, pede pra cagar e sai…

Eu, rolando de rir.

Depois desse jogo fomos para Paris, onde assistimos Brasil x Chile.

E é nesse jogo que aconteceu a história de hoje.

Como rato de rádio que sou, levei meu mini radinho de pilhas comigo, para ouvir a narração do jogo.

Aí, você pergunta: o que eu haveria de ouvir como meu radinho lá na França se não entendia um cazzo de francês!

Ah… mas aí é que está o pulo do gato, digo, do rádio.

Antes de viajar, fiquei sabendo que a Rádio Bandeirantes de São Paulo iria transmitir os jogos do Brasil em cadeia com uma rádio francesa. Ou seja, os brasileiros que estivessem na Copa poderiam ouvir a narração pátria, como se estivessem aqui no Brasil.

Contei isso pro Jack e fomos pro estádio Parc des Princes.

Estamos na arquibancada, jogo começa, meu radinho falando português.

Até aí, tudo bem. Ninguém se tocou.

Não se tocou até sair o primeiro gol do Brasil.

O Dirceu Maravilha era quem estava narrando o jogo pela Band.

“Goooooooooooooooooooooooool, do Brasil, Cééééééééééééééér Sampaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaio!!! Um golaço maraviiiiiiiiiiilha, primeiro gol do Brasil em Pariiiiiiiis…”

A torcida silenciou, aumentei o volume do radinho e o Dirceu continuou narrando: “O Brasil agora vai pra cima, vamos lá Brasil, vamos meter mais um…”

Aí, nesse momento, alguns brasileiros que estavam perto de nós finalmente se tocaram.

Um deles me pergunta: “Que porra é essa? Você está ouvindo uma emissora brasileira, com esse radinho???????”

Respondi: “Sim, tô sintonizado na rádio Bandeirantes de São Paulo, ouça aqui o Maravilha narrando…”

O cara ficou surpreso, sem saber o que dizer.

E eu emendei: “Meu radinho é foda…. pega tudo o que é emissora do mundo… de qualquer país… que rádio você quer ouvir, diz aí”.

Nesse momento o Jack, ao lado da minha esposa, com aquele sotaque caipira me pede: “Ô Wanderley, põe na rádio de Vargem!”

Aí, ele, eu e minha esposa não aguentamos mais segurar o riso.

Os caras não entenderam nada e quase saíram para briga.

Depois, mais calmos, explicamos do que se tratava.

Até hoje ouço o Jack quase despencando da arquibancada de tanto rir.

Jack, meu amigo, o gol ficou chato sem você!

(NA FOTO ANEXA EU, O JACK E ALGUNS TORCEDORES CHILENOS QUE ENCONTRAMOS NO METRÔ DE PARIS)

Wanderley Dóro

Saber mais →

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *