Uma cadeirada no circo da política

Datena agride Marçal com uma cadeira no debate da TV Cultura

É sabido de todos que o debate político, apresentado a nós a cada 2 anos pelo menos tem, ou teria a função de levar aos eleitores as propostas, as ideias e os planos de governo dos candidatos para que estes, possam avaliar em quem depositar sua confiança visando a melhoria das condições das cidades para a população. Bem, a intenção e o discurso são muito bonitos na teoria, mas o que vemos nos últimos anos é um show de ofensas, troca de acusações, candidatos caricatos tentando ganhar “no grito” ou jogar para suas bolhas, em busca de mais curtidas, mais engajamentos, repercussões, memes e o que mais puderem propagar.

Nos debates, vemos candidatos que defendem o seu cargo ou a continuidade da gestão atual, como se tudo fosse um mar de rosas, a cidade está limpa, boa, com canteiros e praças bem cuidados, violência baixa, escolas tinindo, saúde impecável. Óbvio, pois querem se perpetuar no cargo.

Os demais que se opõem pintam a gestão atual como desastrosa, corrupta, ineficiente, de obras inacabadas, filas na saúde, sujeira, buracos nas ruas, caos, um inferno, que devemos extirpar o atual gestor e eleger outra opção.

Se repetem os discursos e as frases feitas, “é hora da mudança!”, “vamos renovar!”, “Comigo a cidade XYZ pode mais”, os jingles e as musiquinhas criadas habilmente por marqueteiros especializados em pintar uma imagem de “super-herói” aos candidatos. São produções e maquiagens pagas com o fundo eleitoral (eufemismo para “nosso dinheiro”), editadas com cores e movimento, visando o convencimento das pessoas. Ferramentas que, na minha opinião, já não surtem o mesmo efeito de 20, 30 anos atrás. Contudo, ainda insistem na fórmula.

Hoje temos o advento da internet, das redes sociais, dos smartphones e a informação a um toque de ser vista, disseminada e compartilhada e nesse ponto, velhos políticos ainda não sabem como lidar. Pode-se pesquisar o candidato fora do seu mundo de cenários bonitos, checar seus atos pregressos, condutas, crenças, resultados práticos, com quem se coligou no passado, as trocas de partido baseadas em conveniências e as frequentes mudanças de opinião, tudo para ganhar o precioso voto.

E nos debates de TV aberta, que deveriam como dito, servir de ferramenta principalmente a quem não tem desenvoltura na internet para se informar por conta própria e formular sua opinião com mais densidade, vemos nos últimos anos o comportamento rocambolesco e circense dos proponentes aos cargos que vão gerir orçamentos voltados a gestão das cidades.

Ignorando os planos de governo (alguns nem os fazem e mesmo os eleitos raramente cumprem 20 ou 30%), os candidatos soltam acusações, ofensas, trocam xingamentos, miram em questões pessoais, familiares, reavivam processos criminais mútuos (Ei, TSE, que tal permitir somente candidaturas com ZERO processos?), gritam uns com os outros e no ápice recente, chegam às vias de fato, com uma cadeira arremessada em um candidato. Uma demonstração total da falta de ponderação, autocontrole e principalmente, desrespeito a nós eleitores, com cenas dignas de reality shows duvidosos.

Muitas vezes pergunto se tudo o que nos é mostrado não pode ser parte de uma encenação, se estamos diante de rivais verdadeiros ou se ao apagar das luzes e câmeras, eles se cumprimentam e vão todos jantar em algum lugar, para zombar de nós que ficamos dando atenção ao “espetáculo” teatral devidamente orquestrado, afinal, existem tantas trocas de partido, as coligações variam de eleição em eleição, partidos inimigos em um lugar são amigos em outro, mas para quem assiste, devem representar personagens e se comportar como seus estereótipos sugerem.

Tudo isso mostra o que se tornou a política recente. A celebração do descaso com quem realmente importa, o cidadão, você, eu, que paga tudo isso obrigatoriamente e não vê nenhum retorno positivo, a exposição real do que visam os políticos, que é um cargo, para galgar dinheiro, poder, status, fama talvez, enfim, desejam escalar objetivos bem menos bonitinhos que as propagandas pintam nos muros, colam nos carros, geram nos stories, nas curtidas. Isso mostra como o jogo político é uma grande lona, cheia de pirotecnia, fogos de artifício, alguns truques de mágica e como novidade, uma cadeirada, talvez uma referência remota àquelas tortas arremessadas entre os palhaços no meio do picadeiro.

Que todos nós analisemos com bastante critério, ceticismo e minuciosidade os candidatos que se apresentam para nós como “a solução”, pois os ingressos estão ficando cada vez mais caros para nós, o respeitável público, que apenas assiste, sem dar risada, os problemas que a política promete resolver mas que continuam lá, enquanto as cadeiras voam, muitas vezes sobre as nossas cabeças.

Marcos Drawer

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