Início dos anos 1970, quando estava fazendo faculdade de Comunicações vi o filme Encurralado e tive um choque.
Me perguntei: como um diretor consegue segurar uma platéia durante quase duas horas mostrando apenas dois caminhões numa rodovia?
E descobri que o diretor era um tal de Steven.
Naquela época eu já estava começando a rabiscar os meus primeiros roteiros de comerciais de TV. E me desesperei: se um cara consegue segurar a platéia por duas horas, o que tenho de fazer com os meus comerciais de 30 segundos!
Tremi na base!
Pois foi ali, exatamente ali, que o Steven Spielberg entrou na minha vida. Por dois motivos: um roteiro deve ter antes de tudo idéia, e deve prender sua atenção pelo que tempo que for necessário. De 30 segundos a 3 horas. Seja no cinema ou na publicidade.
Depois disso, vieram Tubarão, Contato Imediatos de Terceiro Grau, Indiana Jones, ET, a obra prima Lista de Schindler e um porrilhão de filmes maravilhosos.
A cada filme que ele lançava eu era sempre o primeiro a entrar no cinema.
Nessa semana tirei a tarde livre para ver Os Fabelmans, o novo filme de Steven.
E o choque agora foi anafilático, escalafobético, estratosférico.
Que filme! Que filme! Que filme! Que filme! Qua filme!
Está ali a história do Spielberg.
E, peço licença a ele para dizer que ali também está a minha história.
Eu e minha esposa nos seguramos para não chorar durante o filme, mas foi inevitável não chorar e soluçar (soluçar mesmo!) quando as luzes se acenderam.
Leio algumas críticas de pessoas que se incomodaram porque o filme é muito longo e também porque é uma autobiografia do Steve.
Ora, autobiografias são absolutamente comuns na história do cinema.
Vou citar apenas dois diretores que fizeram a mesma coisa: Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore) e mais recentemente La Mano de Dios (Paolo Sorrentino).
Os Fabelmans, além da belíssima história contada pelo Spielberg, revela momentos de extrema emoção e também de extremo humor.
Quando você assistir a sequência em que Steven conhece o diretor John Ford (interpretado magistral e hilariamente pelo diretor David Linch) vai entender o que estou dizendo.
Aliás, nessa sequência tem um grande ensinamento de Ford, onde ele diz que o horizonte é lá em cima.
Os Facelmans é o time de filme como o Encurralado e a grande maioria dos filmes do Steve: deve ser visto e revisto muitas vezes.
O jovem Sammy Fabelman se apaixona por filmes depois que seus pais o levam para ver “The Greatest Show on Earth”. Armado com uma câmera, Sammy começa a fazer seus próprios filmes em casa, para o deleite de sua mãe solidária.
Vá ver. Ali está sendo contada a história do próprio cinema!
(Dedico este post à minha cinéfila esposa, aos meus cinéfilos filhos, aos meus cinéfilos genro e nora, e também ao meu netinho de quatro anos que ainda é um cinéfilozinho mas logo logo vai se tornar um cinéfilozão.