Sextou!

Enfim, sextou!

Desde que me conheço por gente, a sexta-feira foi para mim  o dia mais especial da semana.

Quando adolescente porque prenunciava a alforria longe de deveres e obrigações.

Era o dia de se escolher o vestido ( ou a calça Lee) para o cinema e para o footing na praça central no domingo, e do coração bater mais forte, aos sábados, nos bailinhos de garagem, ao som de Pepino de Capri e sua Champagne, mil vezes tocada na Sonata azul. Compartilhava-se, às escondidas dos pais,  os cigarros e  a Cuba Libre.

Sexta-feira também era o dia de, literalmente, se dormir de touca, para que o cabelo ficasse bem liso e brilhante!

As meninas de hoje, após o advento da escova progressiva e da chapinha, jamais terão a emoção de soltar o cabelão e comemorar porque não ficaram com as marcas dos grampos e ( graças, Senhor!) o tempo estar firme, com nenhum sinal de chuva para arrepiá-los.

Já no  início da vida adulta, a sexta-feira vinha acompanhada da happy hour após o trabalho, regadas à margueritas  ou muito chopp gelado, das viagens improvisadas  à praia, no verão, e às montanhas, no inverno. Algumas vezes em um grupo de amigos da mesma idade, outras com o namorado da vez. Era a época da caipirinha com camarão e dos fondues. Era o tempo do amor e da paixão.

Mas, se eu voltar ainda mais no tempo, as sextas-feiras já foram muito importantes desde a minha primeira infância.

Eram às sextas-feiras, que o tio Flávio chegava de São Paulo, pela Maria Fumaça da Estrada de Ferro Bragantina,  às 19h30. Chegava em casa, abria a mala surrada, de papelão marrom, sobre a mesa da sala e me dizia:

– Adivinhe o que eu trouxe pra você!!!

Eu respondia na mesma hora: – um livro de história!

E ele, então, tirava da mala um livrinho colorido e erguendo bem os braços, para que eu não pudesse alcançá-lo, me desafiava:

– Vamos ver se você merece ganhar esse? Onde está aquele que eu trouxe na semana passada?

Eu, então, corria para buscar o livrinho e ganhava o novo assim que eu terminava de contar a ele  a história do anterior.

Foi assim que aprendi a ler aos cinco anos de idade.

Não tenho a menor lembrança de meu tio me alfabetizando, mas certamente foi ele que me ensinou a ler, pois eu só pude frequentar a escola com sete anos e meio. (Uma determinação governamental só permitia o ingresso de crianças no primeiro ano primário de escola pública àquelas que completassem sete anos até o mês de março do ano em curso. E eu nasci em junho!)

Quando entrei na escola já sabia ler, escrever, fazer contas e ver a hora no relógio. O que causou uma série de aborrecimentos à minha professora, a qual  precisava me manter ocupada ( e calada) enquanto os outros alunos da classe eram alfabetizados.

Mas essa é uma outra história, fica para outra crônica!

Henriette Effenberger

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