Ouvindo Glenn Miller

Ah, como penso agora nos saudosos Dona Lodi e Seu Paschoal.

Ela uma senhora negra, linda, educadíssima, suave, sempre sorrindo; ele, corpo pequeno, branco, carregando todo seu italianismo e sotaque indisfarçável, honestíssimo e um tremendo pé de valsa. Decidiram morar juntos, sofrendo todo tipo de preconceitos de uma época, e muito da própria família dele. Não fizeram por menos, não deixaram de se amar. Nesse início a mesa da “casa” era um caixote de tomates, vazio. E por ironia da vida, foram cozinheiros em hospitais de São Paulo por longos anos, até se aposentarem. Com o amor tiveram uma filha lindíssima, namoramos por um tempo. Lodi e Paschoal, quando eu os visitava na Aclimação, colocavam os discos de Glenn Miller e contavam suas histórias de amor, os bailes do Trianon (atual MASP), e, claro, eu me deliciava não querendo mais ter fim. Até esquecia da minha namorada.

Olhando para eles em minhas lembranças, sei, que Lodi e Paschoal viveram um caso de amor, um lindo amor onde abraçaram árvores, colheram estrelas, andaram sobre as águas, escorregaram pelas montanhas, navegaram todos os mares, e que tudo continuou quando fecharam os olhos para outra viagem maior…


Nilton Bustamante

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Glenn Miller

Nilton Bustamante

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