O Cerol e a Responsabilidade nas Férias Escolares.
Mário Dóro
As férias escolares sempre chegam acompanhadas de uma expectativa natural: descanso, lazer e diversão. Para muitas crianças, uma das brincadeiras mais tradicionais é soltar pipa, prática que remete à infância de gerações. No entanto, uma parte dessa tradição vem sendo manchada por uma atitude criminosa e covarde: o uso do cerol.
O cerol, mistura de cola e vidro moído, é aplicado na linha da pipa para cortar a de outros competidores. À primeira vista, pode parecer apenas uma estratégia competitiva. Na realidade, trata-se de um crime que ameaça a vida de motoqueiros, ciclistas e até pedestres. Quantos acidentes graves e mortes já foram registrados em razão dessa prática? Ainda assim, todos os anos repetimos a mesma cena: férias chegando, pipas colorindo o céu e, junto delas, a sombra letal do cerol.
O problema não está apenas na linha cortante. Está também na omissão. Pais que transferem sua responsabilidade de educar e supervisionar para a escola, como se o período de férias fosse uma “dispensa” de seus deveres. Autoridades públicas que falham na fiscalização, tratando com indiferença uma prática que deveria ser combatida com a mesma seriedade de outros crimes contra a vida.
O que diz a lei?
Diversos estados brasileiros já regulamentaram a proibição do cerol e da linha chilena, entendendo o risco real dessa prática:
São Paulo – Lei nº 12.192/2006: proíbe a fabricação, comercialização e uso de cerol no estado. A lei prevê multa e apreensão do material.
Lei nº 15.556/2014 (SP): amplia a proibição para a linha chilena (industrializada e ainda mais cortante que o cerol artesanal).
Código Penal (art. 132): enquadra como crime de “expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente”, com pena de detenção de três meses a um ano.
Municípios como Bragança Paulista, Atibaia e Campinas também têm legislações próprias, reforçando a proibição em âmbito local, inclusive com previsão de multa aos pais de menores flagrados.
Portanto, empinar pipa com cerol ou linha chilena não é apenas uma “brincadeira perigosa”, mas ato criminoso com respaldo legal para ser punido.
Responsabilidade Compartilhada
Pais e responsáveis: precisam orientar, supervisionar e estabelecer limites. Educação e diálogo começam em casa.
Poder público: tem o dever de fiscalizar, aplicar multas, apreender linhas e, sobretudo, realizar campanhas educativas.
Sociedade: precisa se conscientizar e cobrar ação. Não basta esperar que a tragédia aconteça para que se mobilize.
Reflexão Final
Empinar pipas deveria ser sinônimo de infância saudável, de momentos felizes em campos abertos e seguros, não de manchetes trágicas nos jornais. A humanidade, como já se disse, caminha em “passos de formiga e sem vontade”. Mas é possível mudar: basta compreender que o lazer não pode custar vidas, e que tradição não pode servir de desculpa para irresponsabilidade.