O ipê cinquentão!

Há quase cinquenta anos, às vésperas do lançamento do Jardim Europa, meu saudoso tio Flávio comprou um lote de terreno e ao redor dele plantou árvores. Lote esse que, poucos anos mais tarde, foi dividido em cinco e um deles me coube. Foi onde construí a casa onde moro há trinta e três anos, e assim, juntamente com o terreno, ganhei um pé de ipê, ainda jovem, cheio de energia para crescer.
Tal como eu, nestas três décadas, o ipê envelheceu. E se eu acumulei rugas, fios brancos no cabelo e perda de mobilidade, o ipê também tem pragas, erva de passarinho, derruba galhos apodrecidos, os quais, às vezes, se enroscam nos fios…
Entendo que a vizinhança deve reclamar das folhas e flores que entopem as calhas e formam um tapete na calçada.
Azar! O ipê chegou aqui antes dos vizinhos.
Se servir de consolo, elas me incomodam também. Mas me incomoda ainda mais não ter a vitalidade física para varrer as folhas da calçada. Sendo assim, fiz um trato com ele: eu cuido das minhas rugas e ele cuida de suas folhas e flores!
Hoje, como nos trinta e dois anos anteriores, o ipê explodiu em flores! Está uma festa de passarinhos, de borboletas, de abelhas, de luz e de beleza.
O amarelo das flores escondeu a erva de passarinho, os galhos apodrecidos, e um tapete dourado camufla o asfalto da rua.
Em breve a árvore ficará nua.
Aos poucos, porém, novas folhas brotarão para enfrentarem o próximo ciclo. Até que um vento mais forte o derrube ou o tronco apodreça de vez e ele tombe. Isso se a prefeitura não passar por aqui qualquer dia com uma serra elétrica o remova. Nunca se sabe!
Espero apenas que quando esse dia chegar, eu já tenha cumprido minha missão neste planeta e o que restar de mim esteja adubando a terra para que outros ipês floresçam.

 

Henriette Effenberger

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