Com o avanço tecnológico dos últimos anos, um dos temas mais comentados é o uso da Inteligência Artificial (IA). Surge então um dilema: essa tecnologia promove otimização do tempo e aumento da produtividade ou incentiva a preguiça e a comodidade? A verdade é que o uso da tecnologia já está inserido na realidade cotidiana e passou a fazer parte do dia a dia de muitas pessoas, tanto no trabalho quanto nos estudos.
Como funciona a inteligência artificial?
Você sabe como funciona a Inteligência Artificial? Segundo Sacani (2023), geofísico e divulgador científico, “você ensina a máquina. O ChatGPT é uma coisa muito interessante […] Quando ele pega uma frase que eu escrevi pra ele, lá dentro da cabeça dele, ele aplica algo que chamamos de ‘Transformers’, que é basicamente transformar o texto que eu dei em vetores, em uma coisa matemática para poder fazer conta, porque no fundo, toda inteligência artificial, o que está rodando atrás dela, são métodos de estatística. Eu consigo fazer conta com palavras? Não consigo, então eu transformo palavra em vetor e desse vetor eu consigo fazer conta e, a partir dessa conta, que é uma rede neural, eu consigo estabelecer probabilidades e assim eu gero a resposta final” (Sacani, 2023).
IA e o impacto na aprendizagem
Um estudo realizado pela equipe da Microsoft em parceria com a Universidade Carnegie Mellon (2025) aponta que a dependência dessas ferramentas de IA, sem o devido questionamento sobre sua qualidade, pode reduzir o esforço cognitivo aplicado nas atividades, o que revela que a IA pode ser prejudicial quando utilizada de forma inadequada.
Ao solicitar uma solução a uma ferramenta de IA e simplesmente copiar e colar a resposta, corremos o risco de deixar o nosso cérebro “preguiçoso”. Isso compromete a autonomia de pensamento, a criatividade e a capacidade de exercitar a percepção e o desejo de descoberta, habilidades fundamentais no processo de aprendizagem.
ChatGPT: ferramenta de apoio ou atalho fácil?
Quer um exemplo? Vamos falar da ferramenta de IA mais popular no momento: o ChatGPT. Essa IA é capaz de gerar imagens e textos em linguagem natural, sendo amplamente utilizada por estudantes de todas as idades — desde fins acadêmicos até em tarefas escolares simples. Mas vale refletir: seria esse um recurso honesto ou apenas uma ferramenta de apoio?
Podemos dizer que “os mecanismos envolvidos em comportamentos desonestos estão relacionados, também, à capacidade de criação de autojustificativas. Assim, supõe-se que, possivelmente, alunos que são usuários do ChatGPT possuem maior inclinação a perceber seu uso como honesto.” (Alves et al.,2024)
O próprio ChatGPT reconhece seus riscos
Ao escrever este texto, fiz um teste e perguntei ao ChatGPT: quais os seus pontos negativos que podem me prejudicar nos estudos e no trabalho? A ferramenta respondeu:
- Informações desatualizadas
- Como pode prejudicar: Se você estiver estudando temas atuais (como leis, economia ou eventos recentes), a IA pode apresentar dados desatualizados.
- Como evitar: Verifique se a informação está atualizada ou utilize ferramentas de busca.
- Erros sutis (mas convincentes)
- Como pode prejudicar: A IA pode fornecer respostas com erros conceituais, mas que parecem corretas.
- Como evitar: Revise sempre e confirme com fontes confiáveis.
- Falta de julgamento humano/contexto emocional
- Como pode prejudicar: Respostas podem soar mecânicas em temas éticos ou interpessoais.
- Como evitar: Use como ponto de partida e complemente com sua própria sensibilidade.
- Dependência excessiva
- Como pode prejudicar: A IA pode dificultar o desenvolvimento do pensamento crítico e da criatividade.
- Como evitar: Use como apoio, não como substituto.
- Falta de especialização profunda
- Como pode prejudicar: A IA pode não fornecer respostas suficientemente detalhadas em temas técnicos.
- Como evitar: Consulte especialistas e fontes confiáveis.
IA na saúde e em outras áreas
Incrível, não é? A própria ferramenta reconhece seus riscos e sugere maneiras de evitá-los. Mas seria a IA um recurso desonesto? A resposta é: nem sempre! Quando utilizada corretamente, essa tecnologia pode trazer muitos benefícios.
Na área da medicina, por exemplo, o uso da IA tem otimizado serviços com maior credibilidade, proporcionando mais eficiência, agilidade e personalização dos atendimentos (Santos et al., 2023).
Equilíbrio e pensamento crítico
No entanto, recursos tecnológicos não devem substituir capacidades exclusivamente humanas, como o pensamento crítico. Eles podem, sim, auxiliar na obtenção de melhores resultados, mas não devem se tornar uma muleta que comprometa a construção do conhecimento. É fundamental manter nosso senso crítico sempre ativo, questionando, criando e preservando o pensamento original. Afinal, somos únicos em nossas capacidades humanas.
Referências:
ALVES, J.; BONFIM, P.; SILVA, R. M. Percepções de honestidade no uso da IA por estudantes universitários. 2024. [S.l.: s.n.].
LEE, D. et al. AI tools and critical thinking: A survey of user perceptions. Microsoft Research, 2025. Disponível em: https://www.microsoft.com/en-us/research/wp-content/uploads/2025/01/lee_2025_ai_critical_thinking_survey.pdf. Acesso em: 30 maio 2025.
SACANI, S. O que é o ChatGPT e como ele funciona. YouTube, 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RikHD4hklEU. Acesso em: 30 maio 2025.
SANTOS, G. A. et al. Inteligência artificial e saúde: uma análise de impactos nos serviços hospitalares. Research, Society and Development, v. 12, n. 3, p. 1-15, 2023. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/40856/33384. Acesso em: 30 maio 2025.
SILVA, T. A. et al. Tecnologias disruptivas no ensino superior: desafios e possibilidades. Revista GUAL, v. 16, n. 1, p. 250–271, 2023. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/gual/article/view/99115/58914. Acesso em: 30 maio 2025.