“Você diz a verdade, e a verdade é seu dom de iludir…” (Caetano Veloso)
Sim, ela mesmo! Vamos viajar um pouco no conceito da “verdade”, essa que sempre evocamos como mantra, que enfeita de credibilidade nossas falas, a verdade que defendemos contando muitas mentiras prá poder suportar! (sua bênção Aldir Blanc)
A verdade é como aparição – está diante de nossos olhos, mas nem sempre conseguimos (ou queremos) ver essa mulher nua que nos escandaliza quando não veste os trajes da prudência. Muitas vezes preferimos acreditar numa falsa narrativa impactante do que desvelar a realidade que nos assusta e espanta – nos escondemos nos dogmas, factoides, frases feitas de parco jornalismo, zonas de conforto onde alinhamos nossa consciência vendada.
O ser humano se auto engana para manter a sanidade – acreditamos como crianças que um Deus irá nos salvar, que nossos pais nunca erraram, ou que nossos filhos sempre dizem a verdade. Acreditamos na paixão, no amor, no casamento e sofremos sinceramente quando nossa cara metade não entra em sintonia por que simplesmente não percebemos a falta da antena…
“Nossos ídolos ainda são os mesmos”, diria Belchior, “e as aparências não enganam não…” – o falso brilho dos profetas enlouquecidos que cremos serem nossos guias, muitas vezes nos jogam no sofrimento e na escravidão – os moralismos e os mitos que nos venderam são absolutamente desnecessários quando deixamos de querer entender ou explicar o que apenas sentir no coração. Só descobrimos nosso melhor quando saímos do ringue da guerra pela razão e pela “verdade”.
Meu antigo mestre do Largo São Francisco, Professor Goffredo da Silva Telles, dizia que “a ordem é a desordem que nos convém” – quem se julga acima da lei evocando a verdade como dogma messiânico quase sempre experimenta o chão duro da derrota. Podemos ter a “nossa” verdade, desordenando e lei e a ética – mas é impossível impingir nossas mentiras aos outros por muito tempo – seremos fatalmente desmascarados.
Tememos a realidade por achar que não estamos prontos para ela – nos alienamos com drogas, álcool, sexo, trabalho, entretenimento e prazeres efêmeros, porque o incomensurável que somos ainda não despertou em nossa consciência. Enxergar a realidade significa perder parte da esperança que não somos assim tão fortes, e que não precisamos provar o que somos para as pessoas que não querem saber de fato quem somos. Quando os véus se levantam e vislumbramos nossa alma e transcendência, nosso ego resiliente encontra paz na frustrante impotência de que somos muito pequenos perante a grandiosidade de nossa vida e destino.
Sim, é tudo verdade, e se ela não te liberta, é porque ainda não se revelou!


