Cidadãos de Joelhos: A Nova Religião é o Fanatismo Político

Há uma tênue — e perigosa — linha entre a admiração e a adoração. E é justamente nela que escorrega grande parte da sociedade contemporânea, transformando líderes políticos em figuras sagradas e irrepreensíveis. O fenômeno da idolatria política não é novo, mas sua forma atual é mais insidiosa: disfarça-se de patriotismo, camufla-se de cidadania e, muitas vezes, se apresenta como fé inabalável.

Em nome de uma causa, muitos deixam de pensar. Abandonam a dúvida, desistem da crítica e se tornam missionários de discursos prontos. O político deixa de ser instrumento da vontade popular e passa a ser tratado como um messias. Suas falas são repetidas como mantras, seus erros ignorados como testes divinos, e suas promessas são aceitas com a esperança mística de quem espera milagres.

Esse culto ao político é sintoma de um mal maior: a carência coletiva de identidade, direção e propósito. Quando a população sente que perdeu o controle sobre o próprio destino, entrega o volante ao primeiro que grita mais alto — mesmo que o caminho seja o abismo.

A democracia morre não só sob botas militares, mas também sob aplausos ensurdecedores de quem troca liberdade por lealdade. O fanatismo político transforma a política em religião, o voto em juramento e o adversário em herege. Nesse cenário, o debate vira ofensa, o contraditório vira traição, e o governante vira ídolo.

É urgente resgatar a política como espaço de responsabilidade, não de adoração. Políticos devem ser vigiados, questionados, cobrados — não venerados. Um povo que se ajoelha diante de seus líderes esquece que o poder emana do povo, e não o contrário.

A crítica é o oxigênio da liberdade. E toda sociedade que se recusa a criticar os próprios líderes está, na verdade, cavando a cova da sua própria autonomia.

Mario Doro

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