Numa manhã bem quente de fevereiro estive em Bragança Paulista para tomar um café com o parceiro Mario Doro. O local não podia ser outro: a Padaria 9 de Julho, uma das melhores da cidade. Lá, conheci o seu Sidônio Cesar Gomes, português da ilha da Madeira, dono do estabelecimento, que contou histórias bem interessantes. Imaginem que ele veio para cá ainda criança, numa longa viagem de navio, entre Funchal e o porto de Santos. Foram mais de 7 mil quilômetros. O arquipélago, que fica a 900 km de Lisboa, tem nove ilhas, e apenas duas são habitadas, Funchal e Porto Santo.
Essa conversa com ele me trouxe a lembrança de um antigo poema falando da Madeira, dentro do espírito da coluna, poesia rimando com geografia. Ele está no meu livro “Viagem às Terras de Portugal”, ilustrado pelo craque Afonso Cruz, o artista dos sete instrumentos.
Aqui no Brasil, a comunidade madeirense é grande no estado e na capital de São Paulo, onde fica, inclusive, a Casa Ilha da Madeira, em que acontecem eventos, apresentações e festividades para integrar estes imigrantes, seus descendentes e qualquer um que goste de conhecer novas culturas.
Nas ilhas da Madeira
Vim de navio
Até a Madeira.
Quando cheguei,
Morrendo de fome,
Queria comer banana,
Pera-abacate, anona
E ainda chupar cana.
Até fazer tudo isso
Chegou a hora do almoço.
Ataquei uma espetada
Com milho frito, umas boas
Postas de peixe-espada
E com fatias de um Bolo de Caco,
Dei a comilança por terminada.
Mas não fui descansar,
E sim andar pela terra
Conheci Calheta
Santana, Seixal,
Paúl da Serra,
Levadas do Rabaçal
Curral das Freiras,
Porto Moniz, Faial,
E ainda xeretar
Nas ruas do Funchal.
A Madeira,
Na verdade, são várias ilhas.
Todas cheias de mistério,
Aguardando descobertas.
Umas selvagens, outras desertas.
Sei, que da Madeira,
Um dia terei de ir embora.
Então, peço um favor:
Me arranje um lenço bem grande,
Pois vou chorar nessa hora.