Durante os últimos quatro anos, quem acompanhava as grandes plataformas de investimento via com frequência o nome Banco Master. Seus CDBs chamavam atenção por oferecerem taxas muito acima do padrão do mercado. Enquanto os certificados de bancos grandes, como o Itaú, chegavam no máximo a cerca de 100% do CDI não isento, o que, nos parâmetros atuais da taxa Selic, representa uma remuneração aproximada de 14,90% ao ano, os CDBs do Banco Master no mercado primário eram ofertados a pelo menos 140% do CDI.
O ponto de partida para entender o caso é lembrar que, sempre que um banco emite um CDB no mercado primário, ele está captando recursos do investidor para, em tese, realocar esse capital em algum investimento mais rentável. Se o Banco Master estava captando dinheiro pagando 140% do CDI, isso significa que precisava encontrar operações que rendessem, no mínimo, cerca de 21% ao ano bruto.
As taxas elevadas oferecidas pelo banco tinham justamente o objetivo de facilitar a captação de recursos, especialmente por se tratar de uma instituição de menor porte. Esses CDBs passaram a ser vendidos em diversas plataformas de investimento e, segundo divulgado pela imprensa, aproximadamente 1,6 milhão de pessoas deverão acionar o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que cobre até R$ 250.000,00 por CPF. No total, foram emitidos R$ 41 bilhões em CDBs do Banco Master, o que configurou o maior acionamento da história do FGC.
Quando surgiram questionamentos sobre a solidez dos números do banco, em especial sua razão de Basileia, o mercado percebeu que a situação não era sustentável. Isso desencadeou uma corrida por resgates dos CDBs. Com o aumento da oferta e a queda da demanda no mercado secundário, as taxas dos títulos subiram para compensar o risco crescente percebido pelos investidores. Enquanto muitos buscavam liquidar posições acima do limite de cobertura do FGC, o banco se via obrigado a emitir papéis com taxas cada vez mais altas.
Neste cenário, Daniel Vorcaro passou a carregar um passivo gigantesco: R$ 41 bilhões em emissões, um compromisso extremamente pesado. Para tentar aliviar essa pressão, houve tentativas de vender o Banco Master ao BRB (Banco de Brasília). A operação, entretanto, foi vetada pelo Banco Central, o que evitou que o Estado assumisse possíveis prejuízos privados.
Além disso, cerca de R$ 12 bilhões desapareceram por meio de empresas fantasmas e créditos falsos. O crescimento acelerado do Banco Master também chamou atenção devido à compra de outras instituições, como o Banco Voiter e o Banco Will, algo incomum para um banco que permaneceu estagnado durante anos. Houve ainda o envolvimento de figuras influentes da política brasileira em tentativas de elevar o limite de cobertura do FGC para R$ 1 milhão.
A situação chegou ao limite em 18 de novembro de 2025, quando foi anunciada a liquidação extrajudicial do Banco Master. A Justiça determinou a prisão de Daniel Vorcaro no aeroporto de Guarulhos e bloqueou R$ 12,2 bilhões em bens. Existe, inclusive, uma reportagem bastante detalhada da revista Piauí, publicada antes do colapso do banco, que explica bem o desenrolar dos acontecimentos e o estilo excêntrico de gestão adotado por Vorcaro.


