Quando usamos o termo atual “pobre de direita”, isso não se refere necessariamente a condição econômica de um individuo ou grupo. O termo usado hoje é uma questão cultural.
Nos anos 1970, diante da ditadura militar o usual era “alienado”. Durante o governo de Getúlio Vargas, o termo que designava os pobres que aderiam a movimentos de direita era “camisas-verdes”, referindo-se aos membros da Ação Integralista Brasileira, grupo de extrema direita que usava a palavra comunismo como grito de guerra. Lá nos anos 1940, 1970, ou hoje, essa massa de “pessoas de bem” não sabiam, como não sabem hoje o que realmente é um país comunista, ou socialista.
É importante lembrar, que diante de toda a pobreza nacional, no sertão, nas favelas, na região norte, o individuo que conseguiu comprar uma casa, apartamento e um carro em prestação, como símbolo de status social, se considera rico. Um individuo que trabalha em um escritório, ou oficina, 8 horas por dia, sempre se considerou mais trabalhador que um cortador de cana, que trabalhava das 6 as 18 horas, sem direitos. Esse se considerava trabalhador e esperto, embora fosse escravo do mesmo sistema.
Os pobres de direita de hoje, assim como os de ontem, não conhecem a situação de um país agrário, onde o trabalhador do campo sempre foi escravo e todas as posses de terra de hoje são oriundas das Capitanias Hereditárias, sesmarias e posteriormente grilagem.
É importante lembrar, que o país saiu da escravidão sem nenhuma indenização, os escravizados se viram, de uma hora para a outra sem casa e sem comida, substituídos por italianos e espanhóis, que tinham menos direitos que os escravos, pois não possuíam valor, já que não eram comprados e o que recebiam não pagava a alimentação e nem moradia. Isso na maior parte do país, exceto no sul, onde imigrantes, fugitivos nazistas e fascistas, vieram principalmente da Alemanha e Itália, mas a terceira geração de italianos, os fascistas e, receberam do governo Getúlio, terras no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esses formaram uma nova elite agraria, comprando e se apossando de terras vizinhas e gerando uma nova classe de trabalhadores sem direitos. Esses mantiveram e passaram para seus filhos e netos, o conceito nazifascista visível nos dias de hoje. Esse é só um adendo para discutir o numero elevado de “pobres de direita” no sul.
Em São Paulo, famílias possuidoras de terras se enriquecem com o café, geralmente em terras doadas pelo governo, repetem outros estados, onde a terra dos antepassados são presentes do governo (hoje são contra o estado), passam a financiar políticos e constroem com Minas Gerais a politica do café com leite, que é encerrada justamente por Getúlio, considerado inimigo dos grandes fazendeiros, que vai industrializar São Paulo e criar uma nova elite, onde o operário se considera a classe média, pois está acima de comerciários, domesticas, motoristas, carregadores, estivadores, etc. O modelo de São Paulo é pouco diferente do Rio, exceto que no Rio, as favelas são originárias a princípio, pelo fim da escravidão e desalojados de Oswaldo Cruz. Esses favelados são os pobres, o resto não, eles se consideram ricos, ou classe média e para manutenção de um falso status, são obrigados a criar conceitos que mantenham os pobres em seu lugar. A classe média gera empregos. Uma piada, mas era um lema. A manutenção de pobres era necessária para economizar em salários, domesticas, porteiros, pedreiros, motoristas, etc., se pobres aceitariam qualquer salário e carga horaria. Mas a classe média nunca percebeu que era só intermediaria entre a mão de obra e os verdadeiros ridos, os donos do poder.
De maneira similar isso se repete em todas as regiões em diversos ciclos, da cana, da borracha, do cacau, da industrialização.
Então Getúlio promove o desenvolvimento, o antigo inimigo dos ricos, possibilita ganhos maiores aos ricos, com isso cresce a classe média, que não se sujeita, por salários miseráveis, a se porteiro, ou pedreiro. Promove-se o êxodo rural e do sertão nordestino está a mão de obra faminta, com sede e barata. Esses, junto com descendentes de escravizados serão os novos pobres. A eles se somarão mais tarde os pequenos produtores de alimentos, que nos anos 1960, com vista grossa dos ditadores, vão perdendo seu chão para a formação de grandes fazendas, ou diante do crescimento das periferias de grandes centros. Mas Getúlio que era nacionalista, atuava muitas vezes como fascista, também tinha pensamentos socialistas e resolve retomar empresas brasileiras compradas por americanos (Light, Vale, Petrobras-Família Guinle, etc), cria uma lei trabalhistas e faz escola para todos, incluindo filhos de pobres, criando o único projeto de ensino, dividido entre primeiro, segundo e terceiro grau (durou até 1973), causando revolta total entre industriários e ruralistas, comprometendo o futuro da pobreza, que poderia equipará-la em breve, a classe média. Hoje temos aposentados, filhos e netos de imigrantes, que estudaram em escolas publicas criadas por Getúlio, que lutam contra esse processo, o processo que os tornou classe média alta.
Diante das mudanças operadas nos anos Getúlio, era necessário salvaguardar um pensamento para a manutenção da pobreza, geradora de mão de obra barata e por consequência, lucros maiores. O Globo e O Estado de São Paulo deram inicio a criação de um fantasma, para aterrorizar o povo sem estudos e transformar suas teorias para a manutenção de poder, o comunismo. Para um povo ignorante parecia um palavrão, e caberia a igreja católica transformar em demônio.
Assim Getúlio Vargas é deposto em 1945. A propaganda dizia que o povo queria democracia, mas o povo amava Getúlio, ainda assim foi convencido pela propaganda e pela igreja, que Getúlio era o inimigo, um comunista (é nessa época ele se torna comunista na propaganda), que iria tirar seus direitos, seus bens e seus empregos, ainda que tenha sido ele que construiu os direitos, industrializou o país e deu inicio a uma política de habitação. Esse mesmo povo elege um militar, Dutra, mas 5 anos após devolve o poder a Getúlio, até 1954, quando uma conspiração suicida Getúlio e adia um novo golpe para 1964.
A eleição de um fascista, corrupto e alcoólatra, coloca Jango no poder e mais uma vez a classe pobre está perto de se tornar classe média. Jango reafirma o compromisso com a reforma agraria, exportações para a China, modificação na escala de trabalho e politica habitacional. Entre tudo, reforma agraria e exportações para a China é o que mais irrita os terroristas da América do Norte. Esses dois pontos transformaria o país em uma potencia agrícola.
Com apoio dos Ianques e a compra de congressistas e militares, entre eles Kruel, que levou 3 malas de dólares, se da o golpe de 1964, com total apoio da classe média e dos pobres, manipulados pela Igreja. De 1930 para cá já são 34 anos de propaganda ante comunista, que o povo nunca viu, mas que surgiam na propaganda sempre que novos projetos populares eram anunciados. Esses manipulados já procriaram e seu seus filhos já nasciam com um ideal anticomunismo. Que eles também não sabiam do que se tratava. E também, diante de tanto perigo, não se importavam em perder conquistas sociais, pois muitos nem sabiam o que eram.
Em 1965, prevendo uma divisão na igreja católica e mudança de pensamentos de alguns bispos, o embaixador americano manda para o Brasil 4 pastores, que irão formar novos pastores e construirão um novo mantra para a preservação da submissão popular.
Em 1985, após ao primeiro grande comício das diretas em São Paulo, muitos pastores já estão no mercado e o crescimento em escala geográfica, reflete direto na constituinte dando liberdade total para o estelionato religioso. Esses serão os formadores do pensamento de uma população culturalmente pobre, que não vê qualquer sentido na vida.
Em 1989, com total apoio da Globo, Collor é eleito na redemocratização. Elegeram o representante da ditadura para democratizar, parecia piada e era. Baseados na propaganda anticomunista, Brizola, Lula e Covas, diriam os formadores de opinião, iriam confiscar a poupança, tirar sua casa e eram ateus. O resultado é conhecido. Levou mais 12 anos para que se elegesse um representante do povo, até o golpe contra a Dilma, patrocinado por Obama, com total apoio da Globo e toda mídia tradicional brasileira.
Patrocinado agora pelas igrejas exóticas, que já detinha 30% da clientela pobre, econômica e culturalmente, mais 10% da classe média ignorante e dinheiro de latifundiários, grileiros e mineradores, além da gang da Faria Lima, o povo elege algo pior que Collor, esse só falava merda, não tinha projeto, nunca trabalhou e já demonstrava caráter duvidoso.
O Brasil perdeu sua distribuidora de petróleo, perdeu refinarias, diminuiu programas sociais e o pobre perdeu 30% do salário mínimo, os avanços nas pensões e aposentadorias tiveram perdas iguais, perdeu-se em construção de novas escolas e habitações populares, perdeu vidas, viu o governo mais corrupto já existente e manipulado por mantras anticomunistas, pastores e políticos ladrões ainda defende os criminosos.
Como entender isso? No sul é claro, descendentes de nazifascistas continuam em atuação. No sudeste e centro-oeste, o pensamento se faz a partir de financiamento do agro, da Faria Lima e empresários sonegadores. No geral se vê a influencia dos religiosos, que a partir da ultima constituição, ganharam o direito de mentir. E acima de tudo, a propaganda anticomunista, embora, quem tome casa, seja o banco, agora baseado em leis dos golpistas, pode tomar sua única casa.
Um dos grandes culpados pela ignorância é o próprio PT. O partido, com Lula e Dilma fez grandes avanços, mas erra na propaganda, na cultura e educação. Getúlio em 8 anos de governo fez um projeto de educação, de cultura e divulgação. Falo muito sobre isso em meu livro Hollywood. Até agora o PT nada fez. Não se trata de construir escolas, mas ter um projeto educacional. Não se trata de apoiar as artes, mas ter um projeto cultural, que envolve muito mais que arte. Não se trata de patrocinar redes de televisões, mas ter uma rede ativa de divulgação e cultura. Ou será um acaso que Tarcísio, o herdeiro da podridão, está acabando com a TV cultura, deteriorando a manutenção e direção de teatros e privatizando o ensino? Existe um proposito.