Tela que Hipnotiza: O Celular como Novo Ópio das Massas
Por Mário doro
Resumo O presente artigo analisa a função do celular como instrumento de alienação na sociedade contemporânea. Partindo das reflexões de Guy Debord sobre a sociedade do espetáculo, de Byung-Chul Han sobre a psicopolítica e de Zygmunt Bauman sobre a liquidez social, busca-se compreender como a tecnologia móvel, sob a aparência de emancipação, produz novas formas de dominação e superficialização da experiência humana. O texto propõe uma crítica ao uso indiscriminado do celular, evidenciando seus impactos na subjetividade, na comunicação e nas relações sociais. Palavras-chave: Alienação digital; Sociedade do espetáculo;
Psicopolítica; Modernidade líquida; Smartphone. > “Entre o toque da tela e o vazio do ser, dança a nova servidão.”
Introdução O advento do smartphona de alienação, tão poderosa quanto silenciosa. Ao mesmo tempo em que promete conectar, emancipar e democratizar a informação, o celular opera como instrumento de controle, moldando subjetividades, desejos e percepções em um nível até então inédito. Esta dinâmica evidencia uma profunda contradição: sob a aparência da liberdade tecnológica, instala-se uma servidão invisível, voluntária e autossustentada. Este artigo propõe analisar o celular como ferramenta de alienação contemporânea, ancorando-se nas teorias da sociedade do espetáculo, da psicopolítica e da modernidade líquida. — Desenvolvimento 1. A Alienação na Era da Imagem Guy Debord (1967), em A sociedade do espetáculo, destaca que a vida social moderna se organiza cada vez mais em torno de representações imagéticas, substituindo a vivência direta pela contemplação passiva de simulacros. O celular, enquanto extensão da lógica espetacular, intensifica essa mediação, encenando a vida em fragmentos visuais para consumo imediato e aprovação social. 2. A Psicopolítica da Autossubmissão Byung-Chul Han (2018) propõe o conceito de psicopolítica para descrever o modo pelo qual o neoliberalismo internaliza os mecanismos de controle. O celular, como ferramenta de rastreamento de dados e predição de comportamentos, converte a liberdade aparente do sujeito em uma nova modalidade de dominação, em que o próprio desejo é manipulado de maneira invisível, configurando uma alienação consentida. 3. Modernidade Líquida e Temporalidade Fragmentada Zygmunt Bauman (2000) observa que, na modernidade líquida, as relações sociais tornam-se instáveis e superficiais. O uso incessante do celular, com sua cultura de notificações, feeds e estímulos instantâneos, reforça essa lógica de liquidez, comprometendo a profundidade dos vínculos afetivos, a capacidade de reflexão prolongada e a construção de projetos existenciais sólidos. 4. O Paradoxo da Conectividade Apesar de ampliar o alcance da comunicação, o celular instaura uma forma paradoxal de isolamento social. A conectividade incessante, mediada pela lógica do espetáculo e pela cultura da visibilidade, tende a substituir a comunhão autêntica por interações efêmeras, aceleradas e, muitas vezes, desprovidas de verdadeira empatia. — Conclusão O celular, ao incorporar a promessa de emancipação tecnológica, revela-se um potente vetor de alienação no mundo contemporâneo. Sob sua superfície brilhante, esconde-se uma nova forma de servidão que captura o tempo, os afetos e a subjetividade dos indivíduos. Reconhecer e problematizar essa realidade é fundamental para resgatar a autonomia crítica do sujeito e para repensar a relação humana com as tecnologias que moldam nossa experiência cotidiana. — Referências BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.