PROTEÇÃO DIGITAL: Movimento Desconecta Bragança: um movimento coletivo pela proteção da infância

A cena é comum: crianças cada vez mais novas mergulhadas em telas, adolescentes isolados no quarto, exaustos de tanto “rolar tela”. Muitos pais percebem que algo está errado, mas sentem-se sozinhos e sem saída diante da pressão social por conectividade. 

Foi justamente esse desconforto coletivo que impulsionou o nascimento do Movimento Desconecta, que surgiu em São Paulo há menos de um ano, impulsionado por uma vontade urgente: agir. Pais e mães que percebiam os impactos negativos da hiperconectividade na infância decidiram que não dava mais para esperar. Era hora de buscar soluções reais — e possíveis.

Movimento Desconecta Bragança

A semente do Movimento foi plantada por um grupo de pais da Escola Viverde, preocupados com os impactos do uso precoce das tecnologias por crianças e adolescentes: distúrbios do sono, ansiedade, cyberbullying, exposição a conteúdos nocivos, prejuízos aos vínculos familiares e sociais. Inspirados pelo Movimento Desconecta, que começou em São Paulo e hoje tem alcance nacional, decidiram formar um núcleo local. O primeiro passo foi simbólico e potente: um estande na Festa Junina da escola, no início de junho, com um mural interativo que perguntava às crianças e adultos: “O que fazer quando desconectar?”. A repercussão foi tão positiva que, em pouco tempo, o grupo já contava com mais de 110 famílias engajadas.

Um movimento coletivo, baseado em ciência e em afeto

Apesar de recente, o Movimento Desconecta Bragança está profundamente ancorado em pesquisas científicas e no apoio de especialistas em desenvolvimento infantil, educação, saúde mental e relações familiares. Autores como o psicólogo social Jonathan Haidt, em A Geração Ansiosa, têm demonstrado com dados concretos como o aumento do uso de smartphones e redes sociais a partir dos anos 2010 coincide com o crescimento alarmante de transtornos mentais entre adolescentes. Outro nome de referência é o pediatra Daniel Becker, que alerta sobre os danos à saúde pública infantil e defende a retomada de uma infância ativa, longe das telas e próxima da vida real.

Desconectar para reconectar: com a vida, com o outro, consigo mesmo

A proposta do Movimento é clara: adiar a entrega de smartphones até os 14 anos e o acesso às redes sociais até os 16, promovendo, em vez disso, o fortalecimento dos vínculos reais, da brincadeira livre, do contato com a natureza e da socialização no mundo físico.

E já há frutos visíveis. No último dia 13 de julho, o grupo promoveu uma manhã especial no Lago do Taboão, com atividades como cabo de guerra, slackline, corrida de saco, futebol e arte com elementos naturais. O convite era simples: pais e filhos desconectados, juntos. O resultado? Crianças sorrindo, interagindo espontaneamente, pais aliviados por verem os filhos presentes — no corpo e na mente.

Força coletiva para resistir à pressão social

Uma das ideias centrais do Movimento Desconecta é criar um pacto coletivo entre famílias, pois a maior dificuldade dos pais está em resistir sozinhos à pressão. Quando outras crianças já têm celular, torna-se mais difícil dizer “não” em casa. Mas, quando famílias se unem em torno de um propósito comum, ganham força para sustentar limites saudáveis e proteger seus filhos sem isolá-los.

O papel das escolas e da comunidade

A escola tem um papel essencial nessa transformação, não apenas como fiscalizadora do uso responsável da tecnologia (inclusive em razão da nova Lei 15.100/2025, que restringe o uso de celulares nas escolas), mas como promotora ativa de vivências educativas offline. Já a comunidade atua como rede de apoio, fortalecendo os vínculos sociais e oferecendo oportunidades de lazer, convivência e aprendizado desconectado.

Próximos passos: crescer, conectar e conscientizar

O Movimento Desconecta Bragança tem novas ações previstas para o segundo semestre na Viverde e pretende repetir — e ampliar — os encontros ao ar livre, como o do Lago. A intenção é seguir fortalecendo o grupo e, principalmente, conscientizar as famílias de que o uso excessivo da tecnologia não é inevitável. Há caminhos, há escolhas — e elas começam dentro de casa.

Por fim, um recado direto aos pais, mães e responsáveis: é normal se sentir confuso diante da avalanche digital que nos envolve. Mas há apoio, há informação confiável, e há muitas famílias passando pelo mesmo dilema. Estabeleçam limites, busquem conexão real com seus filhos e lembrem-se: a infância é um tempo precioso demais para ser entregue às telas.

O Movimento Desconecta não é um movimento contra a tecnologia. É um movimento a favor da infância.
É sobre reconectar com o que realmente importa: vínculos reais, presença, convivência, liberdade para brincar, explorar e se desenvolver no tempo certo.

Bragança já deu o primeiro passo. E queremos seguir inspirando, família a família, escola a escola, comunidade a comunidade. Porque proteger nossas crianças é — e sempre será — um trabalho coletivo.

Para fazer parte do Movimento Desconecta Bragança acesse o link: https://linktr.ee/mov.desconectabragancapaulista

Carolina Poletti

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