Nos últimos anos, com o crescimento das redes sociais, vivemos imersos em um mar de informações e imagens produzidas por influenciadores digitais. Pessoas, que muitas vezes parecem estar sempre à frente das tendências, têm o poder de moldar comportamentos, opiniões e até mesmo estilos de vida.
Mas até que ponto estamos nos deixando guiar por eles? Usamos a mesma roupa, o mesmo tênis, comemos a mesma comida? Assistimos os mesmos filmes? Compramos os produtos que eles vendem?
Vender. Um perfume, uma blusa, um jogo, um tênis, um celular novo.
Sim, na maioria dos casos, o que o influenciador quer é nos vender algo. É possível que dentre os milhares de Youtubers, Tiktokers, Instagramers, Twitchers (Não sei se existe este termo), existam aqueles que se importam com a qualidade do conteúdo mostrado e não tão somente em garantir que o seu seguidor veja e clique no “link na descrição”.
O influenciador é a versão Web do “garoto-propaganda”. Quem tem mais de 35 anos lembra do “baixinho da Kaiser”, do “Coelhinho da Duracell”, do “Careca da Bombril”, dentre tantos outros. A diferença talvez seja a densidade da exposição, pois hoje as pessoas têm acesso ao dia a dia do influenciador, podem ver onde ele vai, ver a casa nova que ele comprou, o carro, a festa que ele esteve, a viagem para um lugar exótico, as “lives”, podcasts, enfim, muito mais tempo do que os segundos das TVs abertas.
Os influenciadores digitais se tornaram ícones contemporâneos; eles demonstram uma estética polida e uma vida cheia de experiências que, para muitos adolescentes, pode parecer a única forma de alcançar a felicidade. É inegável que essas figuras exercem um magnetismo que atrai milhões de seguidores. No entanto, a questão que emerge é: até que ponto esta influência é benéfica?
“Nossa, eu quero ter os lábios dela! Vou fazer a cirurgia!”
A superficialidade reinante nas redes sociais frequentemente promove padrões de beleza que não apenas são inatingíveis, mas também insustentáveis. Jovens, ao se sentirem pressionados a corresponder a esses ideais, podem desenvolver sérios problemas de autoestima e saúde mental. A busca incessante pela aprovação nas redes sociais pode levar a distúrbios alimentares, depressão e ansiedade, consequências que não podem ser ignoradas.
“Legal cara! Empina a moto e solta as mãos!”
Outro aspecto preocupante é a promoção de comportamentos irresponsáveis. Muitos influenciadores, na tentativa de gerar conteúdo atraente ou polêmico, não hesitam em expor seus seguidores a desafios perigosos, festas excessivas ou mesmo o uso de substâncias. Fazer manobras perigosas com veículos, entrar em “desafios” de ingerir produtos, ver quem aguenta um soco, pular de algum lugar, enfim.
Esses comportamentos são muitas vezes glamourizados, fazendo com que os jovens sintam-se compelidos a replicá-los para se encaixar ou chamar atenção. Ao invés de se tornarem modelos a serem seguidos em suas conquistas, muitos transformam-se em exemplos do que não devemos fazer. O ápice negativo é muitas vezes, o dano ao jovem que decide copiar o que vê no vídeo, se ferindo, causando danos a si, a terceiros, ao patrimônio ou mesmo vindo a óbito, para tristeza dos familiares.
Tem bons conteúdos nas redes? Claro que sim! Tutoriais de como consertar coisas, aprender idiomas, resolver um cálculo matemático, instalar ou configurar um aparelho, tudo isso é muito interessante e já aprendi muito vendo esses materiais. A internet não é “o mal”. Ela é um veículo, assim como o rádio, a TV, que podem transmitir tanto coisas boas quanto ruins. A internet só quebrou o monopólio da informação e por isso somos tão bombardeados, pois todo mundo pode publicar algo e alcançar milhares, milhões de pessoas.
Contudo, é preciso explicar, especialmente aos mais jovens que muitas vezes o que é mostrado, é uma edição, ou seja, um recorte do que o influenciador “quer que as pessoas vejam”, e que canaliza para uma determinada opinião ou ação por parte do espectador. É algo pensado, fabricado e embalado numa estética feita para você comprar.
Num mundo onde todos temos telas e todo e qualquer conteúdo está ao alcance de um toque, que possamos desenvolver cada vez mais nosso senso crítico ao que vemos, que nem sempre o vídeo daquela viagem, aquela festa maravilhosa, da cirurgia para “melhorar” o corpo, da aposta inocente num “joguinho”, vão trazer benefícios. É justamente o contrário.
Tenhamos ciência de que a pessoa que você segue, não te conhece, não se importa com você. Não está te vendo no momento do vídeo. Está ali fazendo um trabalho, seguindo um contrato, um roteiro estruturado. Não é pessoal. Diferente dos seus pais, familiares ou amigos reais que na maioria das vezes, tem muito mais “conteúdo” do que aquela pessoa na tela.
A vida real não tem edição e não é 100% likes. Tem desafios, obstáculos e momentos ruins. O influenciador só mostra o que interessa a ele. A próxima vez que você ver um vídeo na sua rede social preferida, avalie se aquilo é relevante para a sua vida. Procure entender a mensagem que é passada, filtre a informação e extraia o que irá fazer sentido para você. Se o conteúdo não ensina, ofende, explora, incentiva algo nocivo, descarte-o.
Vamos parar de brincar de “seu mestre mandou” digital.