Vocês se lembram como acessávamos a internet no final da década de 1990 e no início da década de 2000? Pode parecer uma história assustadora para os “millennials”, apelido para os nascidos nesse novo milênio.
Não existiam Smartphones, Tablets ou Smart TVs. Videogames só funcionavam localmente, nada de jogatina online. Notebooks eram artigos raríssimos no Brasil e mesmo os que existiam não eram WiFi, para utilizar a internet era necessário ligar o mesmo uma linha telefônica ou para quem possuíam banda larga, em um cabo de rede.
Para a maioria dos Brasileiros o acesso a internet se dava através de um computador branco ou bege, que ficava num cantinho bem protegido com uma capinha para não pegar poeira. Ele demorava muito tempo para ligar, mais que o tempo para passar um café e fazer um lanche, era muito barulhento, a criança ou adolescente que queria usar de noite escondido era denunciada pelos ruídos do HD ou pelos bipes dos alto-falantes da placa mãe ou Fax Modem.
A Internet era mais simples, praticamente moldada por texto, haviam poucas imagens e sons de baixíssima qualidade, mas que mesmo assim demoravam uma porção de tempo para baixarem e aparecerem na tela. Vídeos eram raros, algo de segundos poderia levar uma porção de horas para baixar. Os sites eram de programação mais simples, quase sem interações.
Mesmo assim todos éramos fascinados com aquela novidade, capacidade de pesquisar conteúdos que antes precisávamos buscar em livros e enciclopédias caras e desatualizadas, ler notícias e revistas em tempo real e interagir com parentes e pessoas distantes de uma maneira revolucionária.
A maioria da população não podia pagar uma mensalidade de internet banda larga e recorria para a internet discada, que funcionava utilizando a linha telefônica, com o mesmo preço de uma ligação local e de velocidade limitadíssima, cerca de DEZ MIL VEZES mais lenta que uma internet de 500MB, pacote intermediário de qualquer provedor hoje em dia. A maioria das pessoas só utilizava a internet após a meia noite em dias de semana, sábados após as 14h e domingos o dia todo, períodos em que a tarifa era reduzida para um “pulso” por ligação.
Era frustrante, pois enquanto se usava a internet o telefone ficaria em uso e se alguém o tirasse do gancho derrubaria a mesma, não que precisasse disso para ela cair, era costumeiro acontecer várias vezes por dia, muitos tinham uma teoria da conspiração que a operadora fazia isso de proposito para poder cobrar mais “pulsos” na conta.
Com o passar dos anos a internet banda larga barateou, cada vez mais aparelhos possuíam conexão com a internet e a função de WiFi se popularizou nos roteadores juntamente com esses dispositivos. Inicialmente ficávamos satisfeitos com um sinal básico de internet na casa, sem necessidade de muito alcance ou velocidade. Mas com a ascensão dos serviços de streaming, games e redes sociais, muitos consideram o sinal de internet da casa tão importante quanto a própria energia elétrica.
Algo que percebi durante anos em minha carreira como técnico de informática é que a maioria das pessoas mesmo considerando o sinal do WiFi de suma importância, não aceitam o investimento em um bom roteador ou em cabeamento de rede para a residência, mesmo isso representando uma fração baixíssima comparado a qualquer outro tipo de reforma ou infraestrutura. Este contexto está muito longe do assunto de situação socioeconômica, afinal o investimento para a rede de internet é proporcional ao tamanho da casa e a quantidade de
dispositivos conectados, ou seja, geralmente pessoas com maior poder aquisitivo são os que mais precisam de uma infraestrutura robusta.
Na verdade é comum do brasileiro achar que não precisa investir nessa área, afinal poucos anos atrás, na época em que os serviços de vídeo por streaming engatinhavam, não precisávamos de tanto alcance de sinal ou velocidade, então um roteador simples e talvez um repetidor sem fio davam conta do recado. Mas infelizmente nos dias de hoje a situação é outra, a cada nova atualização nossos dispositivos precisam de mais estabilidade e menor latência, a cada novo filme ou serviço online, as plataformas precisam de mais velocidade.
Por isso meu desejo de compartilhar um pouco de conhecimento para vocês melhorarem a qualidade da conexão de suas casas e parar de vez de se estressar com situações de lentidão ou travamentos.
UM BOM ROTEADOR
Imaginem o roteador como um pequeno computador, ele tem processador, memoria e sistema operacional, logo um roteador barato vai possuir especificações fracas e um sistema instável. Hoje em dia a maioria dos modems dos provedores de internet também fazem a função de roteador, ou seja, distribuir o sinal da internet para vários dispositivos, tanto por WiFi quando por cabo, porém geralmente os equipamentos deles possuem especificações básicas.
Minha recomendação para uma residência com vários dispositivos que acessam a internet é deixar esse equipamento apenas como modem e colocar um roteador mais robusto para cuidar da distribuição da internet. Exemplos de bons roteadores seriam os que possuem tecnologia beamforming, isto é a capacidade de concentrar o sinal em dispositivos longe, MIMO, uma tecnologia sem fio que usa vários transmissores e receptores para transferir mais dados ao mesmo tempo e WiFi 6, o mais recente padrão de tecnologia de WiFi.
DISTRIBUIÇÃO DO SINAL CABEADO
Assim como em um telefone sem fio ou qualquer outro equipamento baseado em rádio, existem limites para a banda de trabalho do WiFi de um roteador, ou seja, mesmo em um equipamento potente, o alcance não vai ser grande, muitos confundem qualidade com a distância de transmissão, o objetivo de um bom roteador é um sinal limpo, estável e veloz, o alcance não é o foco principal. Para suprir a cobertura de uma grande residência o indicado é a distribuição de vários equipamentos pelo ambiente, que em primeiro caso o indicado é ser feito por meio cabeamento de rede.
Com o cabeamento é possível configurar um roteador em cada ambiente da casa sem perdas de velocidade entre cada um deles. Importante ressaltar que roteadores comuns não podem ter o mesmo nome de rede WiFi para evitar conflitos. Embora a maioria não ligue para isso, a situação pode causar frustração em algumas pessoas de terem vários nomes de rede na casa e ter que ficar mudando entre eles manualmente.
Essa condição pode ser contornada usando equipamentos profissionais com função Hands Free como os da Unifi ou roteadores Mesh com entrada de rede cabeada, como é o caso dos roteadores da Xiaomi. Equipamentos Mesh utilizam de uma tecnologia inteligente para distribuir o sinal de WiFi entre todos os dispositivos da casa.
Caso não seja possível a passagem de cabos devido a problemas diversos a recomendação seria utilizar de um sistema Mesh sem fio.
REDE MESH SEM FIO
Os antigos repetidores sem fio capturavam o sinal do rádio do WiFi e o redistribuíam sem nenhum controle dos dispositivos conectados, o que por muitas vezes diminuía a qualidade, a velocidade e até mesmo causava conflitos na rede. Por exemplo, ao andar pela residência seu celular não vai conseguir trocar de sinal sozinho, necessitando o processo manual, ou ainda pior, caso o repetidor tenha sido configurado com o mesmo nome de WiFi do roteador principal, não será possível mudar nem de forma manual, o sinal aparece no máximo, mas a velocidade e qualidade estão lá embaixo por estar conectado no equipamento mais distante.
Já os equipamentos Mesh trabalham em conjunto entre si, isto é, você os espalha pela casa e eles vão determinar a posição de cada dispositivo WiFi e escolher o equipamento que irá mandar sinal para cada um deles de forma automática. As redes podem ter o mesmo nome, não existirá conflitos e a perda de velocidade é muito menor que em um repetidor comum, mesmo num ambiente totalmente sem fios. E o melhor de tudo que mesmo andando pela casa, seu smartphone ou notebook irá sempre estar na melhor rede possível e sempre de forma automática.