SÍNDROME DO PEQUENO PODER NA ESCOLA PÚBLICA

A “síndrome do pequeno poder” é um fenômeno amplamente discutido em estudos sobre psicologia organizacional e administração, referindo-se ao comportamento desmedido de indivíduos que, ao exercerem pequenas porções de poder, frequentemente adotam posturas autoritárias ou abusivas. Esse comportamento é particularmente notável em ambientes hierárquicos, como o sistema educacional público, onde o poder pode ser distribuído de maneira desigual.

Características da Síndrome do Pequeno Poder

A síndrome do pequeno poder é caracterizada por atitudes autoritárias e pela utilização excessiva da autoridade formal para impor controle sobre os outros, geralmente sem justificativa ou benefício para a organização (Kipnis, 1976). Esses comportamentos podem se manifestar de diferentes formas no ambiente escolar:

1. Autoritarismo e Controle Segundo Parker (2007), indivíduos com acesso a um poder limitado tendem a compensar sua falta de poder real ao exercer controle excessivo sobre aspectos menores, o que pode criar um ambiente de intimidação. No ensino público, isso pode ser visto em diretores ou coordenadores que impõem regras rígidas ou punições desproporcionais.

2. Inflexibilidade e Resistência a Mudanças A resistência a novas ideias e metodologias pode ser uma tentativa de manter o status quo, que sustenta a posição de poder desses indivíduos (French & Raven, 1959). Em escolas, isso pode se manifestar como uma resistência a práticas pedagógicas inovadoras.

3. Impacto no Clima Organizacional
Estudos sugerem que a presença de indivíduos com essa síndrome pode gerar um ambiente de trabalho tóxico, onde a moral dos funcionários é baixa e o estresse é elevado (Ashforth, 1994). Esse clima pode impactar negativamente tanto os professores quanto os alunos, resultando em um ambiente de aprendizado comprometido.

4. Implicações para o Desempenho Escolar De acordo com Blase e Blase (2002), lideranças autocráticas em ambientes escolares podem reduzir a eficácia educacional, pois limitam a criatividade e a autonomia dos professores, o que é fundamental para a inovação pedagógica e o desenvolvimento dos alunos.

Estratégias de Mitigação

A literatura aponta para a importância de estratégias que promovam a liderança democrática e participativa como forma de mitigar os efeitos da síndrome do pequeno poder. A capacitação em liderança para diretores e coordenadores pode ajudar a criar um ambiente mais colaborativo e inclusivo (Harris, 2004). Além disso, a implementação de sistemas de feedback e avaliação contínua pode fornecer aos líderes escolares uma melhor compreensão de como seu comportamento afeta o clima escolar (Tschannen-Moran, 2004).

Conclusão

A síndrome do pequeno poder no ensino público é um fenômeno que pode ter consequências profundas para o ambiente escolar e o desempenho dos alunos. É essencial que gestores e professores sejam conscientes dos riscos associados ao exercício desmedido da autoridade e busquem continuamente aprimorar suas práticas de liderança e gestão. Dessa forma, será possível criar um ambiente mais saudável e propício ao aprendizado.

Bibliografia

– Ashforth, B. E. (1994). Petty tyranny in organizations. Human Relations, 47(7), 755-778.
– Blase, J., & Blase, J. (2002). Teachers’ perceptions of principals’ instructional leadership and implications. Educational Administration Quarterly, 38(3), 349-378.
– French, J. R. P., & Raven, B. (1959). The bases of social power. In D. Cartwright (Ed.), Studies in social power (pp. 150-167). University of Michigan.
– Harris, A. (2004). Distributed leadership and school improvement: Leading or misleading? Educational Management Administration & Leadership, 32(1), 11-24.
– Kipnis, D. (1976). The Powerholders. University of Chicago Press.
– Parker, I. (2007). Revolution in psychology: Alienation to emancipation. Pluto Press.
– Tschannen-Moran, M. (2004). Trust matters: Leadership for successful schools. Jossey-Bass.

Mario Doro

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