Ano de 1983. Cheguei na Norton Publicidade em São Paulo (hoje Publicis Brasil) convidado por Agnelo Pacheco.
Agnelo me perguntou onde eu tinha nascido, respondi que era natural de Ibitinga, Interior de São Paulo.
Aí, o Agnelo me disse: “Então você vai fazer uma dupla caipira com o diretor de arte Mário Scappini, vocês vão atender as contas da Norton Rural.”
E começamos a trabalhar.
Um dos primeiros jobs foi uma campanha para o produto Gramoxone, um herbicida para aplicações em pós-emergência das plantas infestantes, com ação não-sistêmica, da ICI Brasil.
Aí me lembrei que no Interior eu era fã de uma dupla chamada Boldrin e Ranchinho que fazia muito sucesso na TV à época. (Rolando Boldrin havia substituído Alvarenga na dupla com o Ranchinho.)
E eu disse pro Scappini: “Mário, acho que dá pra fazer uma campanha bem legal, com uma linguagem apropriada para o homem do campo”.
E assim foi.
Criamos uns 4 filmes utilizando Boldrin e Ranchinho como garotos-propaganda.
A produtora dos comerciais foi a Blow Up, dos queridos irmãos Franklin e Mutumba Mandim Pereira.
Ficamos hospedados durante 4 dias no hotel Solar das Andorinhas em Campinas, próximo de uma fazenda onde aconteciam as filmagens.
Num dos filmes, criei um diálogo entre Boldrin e Ranchinho, onde um recomendava o Gramoxone para o outro.
Num determinado ponto do texto, Boldrin dizia que Gramoxone era importante para a dessecação pré-plantio, ou dessecação antecipada, prática utilizada para eliminar toda a vegetação existente em uma área antes da semeadura de uma determinada cultura.
Quando Boldrin pronunciou a palavra “dessecação”, Ranchinho imediatamente reagiu e retrucou: “Que isso, cumpadi, descê o carção????”
Ao que Boldrin sorriu e explicou do que se tratava.
Pois não é que “descê o carção” virou mote durante as filmagens? Isso acontecia principalmente na piscina do hotel nos finais do dia.
E à noite, após o jantar, ouvíamos os causos contados por Boldrin e Ranchinho, com todo mundo gargalhando na varanda.
Foi uma época maravilhosa, emocionante, inesquecível.
Uma época em que escrever propaganda ainda era uma forma poética de se expressar.
Uma época em que a verdadeira música sertaneja retratava com poesia o homem do campo.
Dedico esse texto a todos os meus amigos de Norton, ao Geraldão, ao Geraldinho, ao Mario Scappini, ao Franklin, ao Mutumba e a todos os que fizeram da Norton uma das mais brilhantes agências brasileiras de todos os tempos.
E dedico, especialmente, ao multitalentoso Rolando Boldrin que nos deixou recentemente, um poeta que, como eu, nunca deixou de ter o coração caipira.
Ah… Senhor Brasil, há de encontrar-me num cateretê!!!!