A Orquestra Sinfônica de Bragança Paulista
Há poucos dias o setor cultural de Bragança ficou mais pobre, perdemos o músico Victório Calzavara, o qual juntamente com seus irmãos Walkir, recentemente falecido, e Fábio Júnior eram, além de músicos, os responsáveis tanto pela manutenção da Casa de Cultura, mas e principalmente pela Sociedade Sinfônica Amigos da Arte Musical – SSAAM, entidade mantenedora da nossa conhecida Orquestra Sinfônica.
Pouca gente sabe que a Orquestra Sinfônica de Bragança Paulista é a terceira mais antiga em atividade no país, só perde para a Orquestra Sinfônica de Recife, fundada em 1930 e a do Rio Janeiro, fundada uma semana antes, no mesmo 1931 e que portanto, completou no ano passado, noventa anos de trabalho voluntário pela cultura de Bragança Paulista e região.
Menos ainda são as pessoas que conhecem a origem de nossa orquestra. Vamos a ela:
Até o ano de 1927 os cinemas apresentavam filmes mudos. O primeiro falado foi “O cantor de Jazz”, protagonizado por Al Jonson e que o iniciou com a seguinte frase: “ Vocês ainda não viram nada”.
Antes disso, para que a plateia acompanhasse o enredo da fita, legendas eram colocadas na tela e a trilha musical era feita por músicos contratados pelos cinemas locais. Em Bragança existia o Cine Theatro Central e um conjunto musical, de cinco músicos, regido pelo Maestro Demétrio Kipman.
Em 1929 a Metro-Goldwyn Mayer grava o último filme mudo, determinando o final de um ciclo no cinema, o fim da carreira da diva Greta Garbo e, por consequência, o desemprego do maestro Demétrio Kipman .
Se para os músicos bragantinos a extinção da orquestra que tocava no cinema não se constituía em grande perda financeira, pois a maioria deles também possuía outras atividades profissionais, o maestro, entretanto, precisaria deixar a cidade e procurar emprego em um grande centro.
A fim de convencer o Maestro Demétrio Kipman continuar em Bragança, os demais músicos sugeriram a criação de uma orquestra de amadores para apresentações públicas de concertos.
E assim a Orquestra Sinfônica Amantes da Arte Musical se apresentou pela primeira vez no dia 9 de maio de 1931, na sede da antiga Sociedade Espanhola, à época localizada na rua Cel. João Leme.
Entre os músicos, desde a primeira hora, estava Fábio Calzavara, violinista, que acompanhou a orquestra até seu falecimento em 1988, sendo um de seus principais incentivadores e apoiadores.
Nesta coluna quero expressar minha homenagem à família Calzavara, representada agora por Fábio Júnior e mais que homenagear, agradecer pela dedicação de vida inteira à cultura, à música e, especialmente, à Sociedade Sinfônica.
Henriette Effenberger
- A história completa da Orquestra Sinfônica e a da Casa de Cultura está no livro de minha autoria : 80 anos de acordes em harmonia – Sociedade Sinfônica Amadores da Arte Musical – lançado em 2011.
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- Músicos que tomaram parte do segundo concerto da OrquestraDe terno mais claro, o primeiro agachado da direita para esquerda Fábio Calzavara
- Os irmãos Calzara, foto de 2011 – Victório, Walkir e Fábio Calzavara Júnior.